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O futuro de Ovar

O futuro é uma coisa complicada, não chega sempre que queremos. Às vezes, sonhamos com ele e ele, teimoso, cisma que só há-de vir quando lhe apetecer.

Porém, se há coisa que ele não nunca foi é ingrato. O futuro, no seu traje de patrão justo, finda sempre por chegar muito ciente de quem se esforçou. Digamos, desembarca cheio de benesses para quem andou a trabalhar para ele, a esfalfar-se nas melhoras maneiras de fazer o caminho que junta o sucesso à realização. Não acontece em todos os casos, claro, há momentos que factores externos o influenciam ou demoram, mas, ainda assim, vale a pena lutar pela vontade de que ele surja.

Ovar, no seu cantinho estacionado na orla do mar, com a ria de vizinha e o Porto para um lado e Aveiro para o outro, mesmo na fraqueza de muitos anos de estagnação, está a mover-se para ele. Isso não se deve apenas a governação, deve-se também a uma população que vai ficando por cá, aborrecida com isto e com aquilo, insatisfeita com a estagnação de muitos anos, mas cheia de vontade de fazer mais.

Estes louros não são só da população e da governação vigente, a anterior também deixou obra que apoia a esse caminho que vai trazer de reboque o futuro. Podia falar de muitas coisas, de apoios ao IMI, de burocracias desburocratizadas, do arrojo da Aldeia do Carnaval, da Escola de Artes e Ofícios, contudo não é a isso que me refiro, mesmo não o esquecendo. Falo do nosso Espaço Empreendedor, que floresceu no parque da Biblioteca, plantada ao lado do rio como uma papoila numa paisagem de planície. A obra feita, no talho da arquitectura e design, está belíssima. Não estive lá dentro, mas vi umas fotos que me arrepiaram pelo seu bom gosto. É um orgulho ver um espaço daqueles, requintado, perfumado de futuro, na minha pequenina cidade, tantas vezes vista como parada.

Houve lá, no espaço do empreendedor, uma iniciativa conjunta com a Universidade de Aveiro que muito tenho que gabar, fez-nos bem ao ego e exaltou mais ainda a vontade de esta cidade, pequenina e com o seu encanto próprio, ser um exemplo num país amorfo, adormecido como um velho do restelo nas margens do Tejo. As iniciativas, o empreendedorismo social e particular são o futuro do país, mas não se faz sozinho e, por isso, tanto louvo esta junção de interesses a uma Universidade tão bem cotada na Europa e que faz o favor de ser nossa vizinha simpática, sem nos recusar a parceria.

Obviamente, isto é um primeiro passo de um trilho que está destinado a ser longo, como todos os caminhos de sucesso verdadeiro o são. No entanto, não se deixa especar nos tempos de espera por esse sucesso e abre-se a concertos, fazendo as pessoas eriçarem-se com o leve bafo de modernidade que lá se emana.

Vão lá estar os Peixe Avião, no dia 29 de Março, às 21h30 – num dia de magnificência para Ovar, onde se poderão ver, também, Lula Pena, pelas 21h30, no Museu Júlio Dinis; Márcia, pelas 23 horas no Salão Nobre da Câmara Municipal de Ovar; e Dead Combo, pelas 23 horas, na Escola de Artes e Ofícios. É ou não é uma maravilha?

E isto, estas iniciativas pensadas numa altura de foco no Carnaval, é que me fazem pensar que o caminho para o futuro chegar está a ser feito. O futuro é chato, demora, mas não é injusto. E nisso é que precisamos de nos agarrar.

Endosso os meus parabéns ao gabinete de cultura de Ovar. Numa altura em que o país se cinzela pela estagnação da cultura, desviando fundos para imediatismos pouco compreensíveis, fico feliz de na minha terra se ver, neste momento, um momento de viragem. O futuro merece-se, e nós estamos a fazer por merecê-lo! Obrigado.

Ricardo Alves Lopes (Ral)
http://tempestadideias.wordpress.com
[email protected]
ILUSTRAÇÃO de autoria do PintoLuís

 

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