O Mar anda a avisar
Não é de agora que o mar, em tempo que é tempo para mais longe se espraiar, vai fazendo visitas aos seus vizinhos, a pessoas que, para melhor disfrutar daquela companhia, se instalaram na sua zona de intervenção.
Uns, foram construindo, usando materiais de qualidade duvidosa, e foram ocupando espaço que é público. Terão arriscado o pouco que é o “seu” para melhor se instalarem e agora, esquecidos dos riscos que eram por demais evidentes, vêm reclamar obras de protecção.
Outros, usaram a legalidade, pagaram as taxas devidas e que lhes eram impostas. Bem intencionados, mas muito mal informados, surgiram os compradores. Investiram, adquiriram aquilo que devia ter garantias de segurança e de estabilidade.
Mas, todos os anos, a cena repete-se, o mar avança e os lamentos acontecem.
As televisões recolhem imagens, os jornais noticiam, e os prejuízos, avultados, ou não, surgem para que alguém os venha a suportar.
Os autarcas da “praça”, alguns deles responsáveis pela implantação das casas, visitam os locais afectados e por que são conhecidos na zona, prometem, e são intervenientes em situações de muito alertar as entidades oficiais e de muito mais pedir. Não dizem que foram, e são, as suas autarquias as beneficiadas com os impostos dali provenientes.
De Lisboa chegam os governantes. Olham o mar e, por certo, percebem tanto “daquilo” como do alfabeto chinês. Mas, “atiram” umas frases lindas, prometem “mandar” dinheiro para que mais pedras sejam colocadas no areal e a protecção se faça.
Não percebem, nem entendem, que o problema não tem solução fácil e à vista. O mar não se contraria. A sua força não se compadece com a obstrução do seu caminho natural. E, por que assim é, já ouvimos técnicos defender a retirada dos obstáculos e deixar o mar em total e perfeita liberdade. Em Cortegaça, já temos habitações que se encontram abaixo do nível das águas.
E, agora, surgem as dúvidas. Que fazer? Claro que as decisões cabem a quem cabe decidir.
Uns, os tais, que ocuparam espaço, que é de todos nós, que podem pedir? Mas exigem Os outros, os que respeitaram as regras impostas e pagaram à Câmara as taxas e demais impostos que lhes foram imputados, têm o direito de ser ressarcidos daquilo que se “sabia” poder ser “destruído” e, então, já a correr os riscos que agora tomaram forma de calamidade? Que culpa tem o cidadão, que não reside junto à orla marítima e que pode vir a ser chamado para suportar custos, que só a quem licenciou e cobrou são devidos?
As perguntas que se justificam fazer, são mais que muitas. As respostas, que as dê quem se sinta habilitado para as dar.
E, mais uma pergunta: perante esta realidade, a Câmara vai mesmo construir as casas projectadas, naquele local? Retira moradores de “cima do mar” para os voltar a colocar, depois de milhões gastar, em “cima do mar”?
Infelizmente, uma noite pode chegar e fazer-se sentir a “acção” das águas do mar, e a tristeza por ali se instalar.
Florindo Pinto
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