O Rei esteve na praça
Passou por aqui como que em escala técnica, desenraizado e altivo, pronto a zarpar rapidamente.
Contudo não deixou de ser uma presença agradável, brilhante alternativa ao gris dominante dos últimos meses.
O sol reinou num curto período de tempo, no intervalo de uma tempestuosa dinastia, mas foi deposto celeremente.
Visita hebdomadária, que nos encheu de vida e nos fez recordar que por cima de nós não existe só chuva ou lã de vidro – aquela real luz, a do sol, disseminou-se para agrado de todos.
Mesmo aquele clã, quase ministério da má-língua, que se instala quotidianamente na praça, pôde verberar de forma mais ruidosa a sua análise à realidade social local.
Esta praça não foi feita a pensar nos que a adoptaram como local de encontro e permanência- estes dias de chuva não foram motivadores de tertúlias ao ar livre.
A praça sem-abrigo para tanta chuva, tanta água, reserva apenas uma “Vereda Tropical” em forma de guarda-chuva para os mais incautos.
Ontem, a inundação vespertina de sol permitiu relembrar que existem outras tonalidades para além do cinzento.
O sol é criador, puxa por nós, acelera-nos, tira nos deste torpor, dilata a alma.
Passagem fugaz do sol, pois estamos de regresso ao gris, como que vivendo desalmados, ausentes, órfãos- sonhamos com ele, acordamos na sua ausência, o sol é-nos intrínseco, faz parte da nossa existência.
Henrique Gomes (Texto e foto)