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Ovar é uma cidade que está a ser tida em conta

Confiem no que vos digo. Ovar é uma cidade que está a ser tida em conta.
A eleição do presidente da camara, Salvador Malheiro, com tudo o que teve de bom e mau, com todas as ideologias que não me compete discutir – muito menos revelar as minhas – trouxe algo de muito proveitoso à nossa urbe. Algo que não vem de fora, que ainda não é atenção externa que todos desejamos, mas que é igualmente importante. Conforme sempre se diz, o caminho faz-se caminhando e, muitas vezes, o que mais conta não é o destino, mas a viagem. E é isso que todos, em conjunto, andamos a fazer. Andamos a gozar a viagem, como crianças num passeio da escola. E isso é bom. É o primeiro sinal de que nos abeiramos do trilho que deve ser seguido. 

Ainda miúdo, ouvia os meus pais, enquanto amarfanhava os bifes e batatas fritas a correr, referirem os problemas relacionados com o IVA, as inconstâncias das políticas disto e daquilo, daquele e daqueloutro, mas ignorava-os. Havia lá paciência para aturar aquilo, enquanto o computador estava em Pause do PES, na secretária, só à espera que eu terminasse aquele prato e os meus pais se decidissem a terminar os deles também. A política era um bicho papão, pior, era um atraso para o meu jogo de computador. 

Depois, uns anitos à frente, passei a estudar fora e até, imaginem, a ter uma conta no banco. Porém, spreads e políticas disto e daquilo, ainda não eram coisas que me alarmassem. No máximo, alarmar-me-ia um atraso no ordenado dos meus pais, pois, por consequência, atrasaria o bater da quantia na minha conta. Era da Caixa Geral e para jovens estudantes, nem taxas pagava.  

Contudo, a vida faz-se vivendo, em etapas e metamorfoses, em ajustes necessários à nossa sobrevivência. Dessa forma, principiei a trabalhar no Verão. Uma loucura, gente gira ao meu redor, colegas de trabalho fantásticos, o Europeu a correr no nosso país e eu com dezasseis anos e dinheiro para festas e roupas de marca, a condizer com o estatuto que eu pretendia. Fruto do meu suor, mas sem necessidade de dar contas. Um sonho que ainda não me aviva interesse político. Isso, a política, continuava a ser uma Babel que me atrasava as reportagens do desporto nos noticiários e enchia os jornais generalistas que eu gostava de desfolhar.  

No entanto, o tempo voou. Já lá vão quase dez anos desse Verão e já trabalho há, quase, quatro anos, após um curso profissional e uma licenciatura. Muita coisa aconteceu, muitas responsabilidades mudaram. A política passou a ser algo que me interessa, tendo em conta que influencia o meu ordenado, o meu estilo de vida, a minha qualidade de vida e, inclusive, o orgulho que tenho no meu país. Poderia ter-me interessado logo aos dezasseis anos, que demonstraria maturidade, contudo assim não aconteceu e não me envergonho. Não me envergonho porque o caminho foi feito e aprendi a dar relevância ao que a vida me demonstrou que é importante. 

Em Ovar, creio, com estas eleições sucedeu o mesmo. Numa altura que o país atravessa mais uma das suas crises, quase tão comuns como os verões de calor no Algarve, o nosso concelho envolveu-se numa eleição e compreendeu que na política de proximidade pode fazer diferença e ser ouvido. E isso é o tal caminho que é necessário caminhar. Sem demasiadas ânsias, sem demasiadas expectativas, só aproveitando a viagem e compreendendo o crescendo de preocupações políticas e sociais dos vizinhos. É assim que crescemos enquanto povo. 

Por tudo isto, digo que somos uma cidade a ser tida em conta. Sem pólos universitários, sem uma das regiões mais jovens do país ou mais apetrechada industrialmente, somos um concelho em amadurecimento da população. 

É bonito, a meu ver, encontrar pessoas nas redes sociais a questionarem por contas públicas, a citarem decretos para reclamarem os seus direitos, a debaterem o futuro urbano da cidade. Isto é ser tido em conta. Não pelos de fora, por nós, mas como só podemos desejar que os outros gostem de nós quando nós gostamos de nós próprios, o caminho é o certo. Por isso, digo e repito: estamos a ser tidos em conta, e por nós, que somos quem mais importa. 
Tenho orgulho de ser Ovarense, com tudo o que possamos ter de mau. É bom que todos tenhamos! Estamos a crescer! 

 

Ricardo Alves Lopes (Ral)
http://tempestadideias.wordpress.com
[email protected]
ILUSTRAÇÃO da autoria de PintoLuis

 

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