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Ovar não tem medidas, tem pessoas…

Não sei a dimensão de Ovar. Não me perguntem por ela, porque não sei mesmo. Refiro-me a quilómetros e pessoas, a ruas e ruinhas, a jovens e a mais velhos, a crianças. Não sei a dimensão.

Habituei-me a ver a nossa cidade como pequena e a apreciar isso, porque a verdade é que efectivamente o é. Chegamos do Neptuno ou da câmara, o pleno centro, até ao Furadouro num instante. Com umas parcas horas percorremos o centro da nossa cidade por inteiro, como quem percorre um shopping, como quem passeia a saber que tem horas marcadas. Voo do centro para casa, já fora da cidade, num ápice. Parece, até, que moro mesmo no centro. Tudo é rápido de alcançar em Ovar e, conforme referi num dos textos anteriores, isso não é problema em parte alguma.

Mas, permitam-me o arrojo, Ovar é muito maior do que o centro da nossa cidade, do que a dimensão do nosso concelho ou de uma das nossas freguesias. Ovar é terra de Santa Camarão, Ovar é lugar de escrita do Júlio Dinis, nomeando apenas os topo de memória, porque Ovar também é a minha terra, também e a tua terra, e a tua que só começaste a ler agora e a dele e a do rapaz que não era para abrir o texto e quando se deu conta já aqui anda. E você, jovem mulher de 50 anos, não é de Ovar, eu sei, mas está a ler um texto de Ovar e para Ovar, o que demonstra a sua afinidade a nós, e isso alegra-me. É, na verdade, o que faz com que eu não pressinta a dimensão de Ovar.

Sei, isso sim, que não se mede por quilómetros, mede-se por olhares, por movimentos, por sensações. Enfim, mede-se por pessoas. E assim, dessa forma, somos uma cidade muito maior do que o caminho do Neptuno ao Furadouro, ou de Esmoriz a Válega.

Conheci pessoas com afinidade a Ovar em sítios tão distantes como Genebra, como se o destino quisesse que não nos cruzássemos na vizinhança e o fizéssemos mais longe, num país apartado. No pouco que viajei, pude dizer que sou de Ovar e ouvir de resposta: boa terra, grandes verões que lá passei; em Ovar, oh em Ovar, quem resiste ao Carnaval? Olha Ovar, então não conheço? Claro que conheço, tenho lá um grande amigo, o (…), conheces?

Ovar é pequenino, com certeza que devo conhecer, ao menos de vista! Reforço eu, e ninguém redargue em chacota, porque ninguém acha Ovar pequeno. Chegam no carnaval e julgam imenso, talvez maior que Lisboa, pelas horas que demoram a fazer poucos metros. Vêm em outras ocasiões e conhecem pessoas a rodos, porque em Ovar não se anda sozinho, anda-se em grupo, e quem conhece muita gente num dia, não pode achar Ovar pequeno.

Posto tudo isto, em que conheço ovarenses no ponto mais a sul do país ou ligações a nós, à nossa praia, em Genebra, ou outras pessoas, em qualquer outra parte, que têm amigos ovarenses, pergunto-me como posso medir, com exactidão, a dimensão de Ovar?

E concluo, aí sim, com exactidão, que Ovar não tem medidas, tem pessoas… e elas é que fazem o tamanho da cidade! A beleza da região!

Ricardo Alves Lopes (Ral)
http://tempestadideias.wordpress.com
[email protected]
ILUSTRAÇÃO de autoria do PintoLuís  
       
 

 

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