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Praça como retiro, local de encontro das gentes (como a das Galinhas, como outras tantas espalhadas por esse mundo fora). Praça como marco de algum acontecimento histórico (como a República ou tantos outros episódios que ditaram as mais diversas viragens nos destinos dos povos). Praça-mercado, as Praças como algo marcadamente bairrista onde se catapultaram ou exponenciaram diversos ideais e culturas, projectando-se global e universalmente. De actos continuos presentes com cariz mais restrito se projectaram grandes correntes. Essas grandes correntes por sua vez criavam condições para serem difundidas e absorvidas em algumas Praças, criando-se uma dinâmica do local-universal-local. Foi assim durante quase sempre, mas creio que nos dias de hoje (infelizmente), o que se faz localmente pouco ou nada interfere com os destinos do país e do mundo, e essa corrente universal (previamente decidida sem grande consulta pública) projectada pelas televisões e pela net, essas sim determinam o dia-a-dia das pessoas!

É irónico que dantes o que acontecia numa Praça (local) podia mudar o destino do Mundo e hoje ouvimos as notícias de manhã e o acontecimento abertura das Praças (mercados financeiros) pode ditar os humores e as sortes dessa semana, mês ou até mais alguma coisa…no país dessa mesma Praça, no Continente e muitas vezes contagiar todo o planeta, como um petroleiro acidentado em alto-mar.

Se temos que viver com esses mercados (financeiros), temos sim senhor, e visões radicais que o neguem são canções de embalar, agora temos é de tentar que a soma das pequenas partes que são as vidas de cada um de nós se voltem a traduzir numa sociedade coesa e talvez aí mais respeitada pelos governos e pelos ditos mercados.

Os números deverão ser sempre a consequência do conjunto das acções dos homens, e não a serem eles os ditadores das vidas das pessoas. Qualquer povo que não conhece a sua história tem poucas hipóteses de ter um presente clarividente e de projectar algo significativo para o futuro, e corre o risco de ser desrespeitado e perder a sua soberania. Creio que é mais ou menos aqui que Portugal se encontra.

Em 2011, o Portugal intervencionado seria a Grécia ou seria a Irlanda!? Alturas houve em que os profetas anunciaram uma tragédia grega, agora os ilusionistas, a poucos meses da saída da troika tentam a colagem á Irlanda. Os três povos e seus patamares de desenvolvimento são demasiado diferentes para ser aplicada a mesma receita (e duarante estes anos percebemos que esta era demasiado igual, demasiado instantânea e pouco consistente), e para produzirem resultados iguais! Discussão de Panteão ou não á parte, mas a morte de Eusébio, embaixador inequívoco do nosso país além fronteiras, transportou-me para alguns acontecime

ntos que me permitem colorir esta discussão sobre as diferenças entre os países sob intervenção externa. Os portugueses têm uma maturidade superior aos gregos, um sentido de missão diferente e em relação aos irlandeses? Penso que não sou diferente da maioria das pessoas, que só se aperceberam da real dimensão de Amália ou Eusébio no dia em que faleceram. Em 1999, jogava-se o derradeiro jogo de apuramento para o Euro 2000 e em pleno Estádio da Luz, subitamente passaram A Gaivota de Amália, e tremi ao ver mais de 100.000 pessoas, a maioria emocionada, a entoar a canção prestando-lhe uma sentida homenagem.

No mesmo momento pensei que os portugueses já tinham dado um pequeno salto em relação a um outro fenómeno que tinha assistido em 1995 nesse mesmo lugar. Jogava-se então o apuramento para o Euro 1996 

e Portugal enfrentava a Irlanda. 25.000 irlandeses tinham vindo apoiar a sua equipa. O speeker anunciou uma canção dedicada os forasteiros e surgiu Sunday Bloody Sunday: fiquei completamente de boca aberta a ver o sentimento daquela gente, como se estivesse bem fresco esse trágico dia em que autoridades leais á coroa britânica fuzilaram uma marcha de católicos. Isto quando já tinham passado 23 anos. A música que o speeker coloca em resposta foi…Nós Pimba, de Emanuel. Fiquei novamente de boca aberta, mas desta vez por outros motivos! Faixa seguinte dedicada aos irlandeses: Fields of Athenry (aquela mesma canção que os irlandeses entoaram no último Europeu quando perdiam 5-0 com a Espanha). Mais profunda ainda! Canção que retrata a crise da fome ou da batata em 1845-1849 (portanto à distância de 150 anos da noite desse jogo), que durante quase 5 anos dizimou cerca de 1 milhão de pessoas e levou outras tantas a emigrarem daquela ilha. Para o lado português vem Iran Costa com o Bicho…mais palavras para quê!!!

A Irlanda tinha em meados do século XIX quase 8 milhões de habitantes, sendo o país do mundo mais densamente povoado, tem hoje menos de 5 milhões de pessoas e mais de 20 milhões de emigrantes. Não, não estou a sugerir a ninguém para emigrar. Esse triste papel deixemos para alguns amnésicos do valor do nosso país. Estou a sugerir que as pessoas se devem interessar por aquilo que é a sua terra e da ligação com ela tirar o maior proveito, tendo uma boa dose e capacidade de sofrimento.

A lição aqui é mesmo que povo que não conhece e/ou não respeita a sua história tem boa probabilidade de vir a enfrentar grandes problemas e sobretudo ter enorme dificuldade em lidar com eles e dar a volta por cima.

Sérgio Chaves

(14.01.2014)

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