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Aron Hakodesh passa a monumento de interesse público pelo simbolismo judaico

É classificada como monumento de interesse público a estrutura em que se integra o Aron Hakodesh, ou Ekhal, da Rua do Padre Juiz Oliveira Martins, em Câssemes, São Vicente de Pereira”, diz o documento assinado pela secretária de Estado adjunta e do Património Cultural, Ângela Carvalho Ferreira, publicado em Diário da República.

Após um período de consulta pública entre Setembro e Outubro de 2020, a construção é agora definitivamente considerada “um espaço muito significativo para a história e para a simbólica do culto judaico em Portugal, apresentando evidentes semelhanças com outras estruturas do mesmo género encontradas em judiarias de outras regiões do país”.

A portaria declara ainda que, dado o interesse do Aron Hakodesh enquanto “testemunho notável de vivências e factos históricos”, o seu contributo para a memória colectiva “justifica plenamente a sua valorização no contexto nacional”.

Em termos práticos, a referida estrutura de São Vicente Pereira – denominada não só Aron Hakodesh e Ekhal, mas também Eikhal, sempre com base no termo hebraico para “arca sagrada” ou “armário da lei” – é um móvel onde se guardava a Tora, pergaminho manuscrito que replica os textos sagrados na base do Judaísmo e que é utilizado em todas as celebrações litúrgicas dessa comunidade religiosa.

No caso específico do Aron Hakodesh de Ovar, trata-se de um armário em pedra embutido na parede e integrava uma propriedade privada que a autarquia adquiriu em 2014 por 125.000 euros, já com o propósito de preservar o património constante dos edifícios centenários aí existentes.

“Encontrado num cómodo da habitação principal de um complexo rural de arquitetura vernacular, com provável fundação quinhentista em alvenaria de xisto, tijolo e argamassa, [o Ekhal] é composto por dois largos nichos sobrepostos, ladeados por outros dois de menor dimensão. Destinava-se a guardar o rolo da Tora, a menora e outros elementos litúrgicos utilizados durante o culto judaico do Shabat”, refere o documento publicada pelo Governo.

Apesar de a residência rural onde o armário foi encontrado datar do século XIV, a portaria defende que o seu Aron Hakodesh terá sido edificado “no século XVI, numa época em que os judeus portugueses foram perseguidos e forçados a converterem-se ao Cristianismo”, mas continuaram a praticar os ritos e cultos judaicos “em segredo, no interior das suas habitações”.

“A presença deste armário, significativamente encimado por uma cruz, é um raro testemunho da existência do criptojudaísmo na região de Ovar, seguramente praticado por uma família de cristãos-novos pertencente a uma pequena comunidade, que habitaria esta casa de lavoura”, conclui a secretária de Estado adjunta e do Património Cultural.

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