Um mimo, para quem tem direito!
Somos ou não somos todos iguais? Creio que somos, aliás, prova disso é que temos estabelecimentos para quem prefere agitação e saídas de fim-de-semana, temos outros para cafés tranquilos, outros mesmo para jantar, outros para passeios e refastelo junto da natureza, outros para descanso e até exercício. Porque não temos, então, um espaço para pessoas com handicaps? E note-se que handicaps é uma palavra feia, normalmente as dificuldades estão nas envolventes, não estão nas pessoas tidas, ignorantemente, como diferentes.
Diferentes todos somos. Eu gosto do vermelho e tenho pessoas que amo que gostam do amarelo. Somos diferentes, pronto, não há mais nada a acrescentar. Agora, a não colocação de uma rampa numa escada não pode ser desculpada com a diferença de alguém. Não vou reduzir a pessoas com deficiências, vou alargar a pessoas com pesos de anos nas pernas, nas costas, em que subir uma escada já pode ser dantesco, heróico. Devemos ter isso em conta.
Nos locais privados, cada um sabe de si, feliz ou infelizmente. No entanto, em espaços públicos, as coisas devem ser olhadas de diferente forma. Uma rampa não é só viável para uma pessoa com dificuldades motoras, também será, porventura, usada por outros. É um acesso, como umas escadas são. Um simples transporte de um móvel, para os Paços do Concelho ou para um qualquer outro edifício, será facilitado com essa rampa. Não é um investimento minoritário, é um investimento alternativo. As crianças, com esta ou aquela dificuldade, serão adultos que muitos nos poderão trazer, pelo que não devemos esquecê-los ou tratá-los de forma díspar. Uma rampa, um baloiço diferente, um acesso ao passeio, são tudo coisas fundamentais. Não se trata sequer de uma exigência para cada esquina, trata-se de uma simples chamada de atenção para casos de sítio a sítio, que são legítimas para contribuintes, como todos os outros.
Os pais de uma criança deficiente, ou um próprio deficiente que trabalhe, são cidadãos e contribuintes como outros quaisquer, os regentes estatais devem, por consequência, olhá-los dessa forma, pessoas nacionais que necessitam de atenção. Se a atenção deles é ligeiramente diferente, é dessa forma que deve ser olhada, não negada.
Se numa era de crise podemos, com mérito, fazer exercícios de gestão que não nos negam a possibilidade de continuar a evoluir, por exemplo com obras de restauro e reaproveitamento, não podem ser umas rampas aqui e acolá, uns baloiços adaptados, uns estrados na praia que levem até à zona de praia, que vão destruir ou complicar o orçamento. Bem sei que gestão não pode ser feita de olho em casos demasiados específicos, mas neste caso nem é tão específico assim. Um investimento na igualdade de oportunidades e, acima de tudo, de direitos, pode ser um exemplo para um país que, em crise, tanto esquece as suas pessoas, centrando-se nuns números abstractos, no máximo traduzidos em nomes que nada dizem.
Diferentes todos somos, compete-nos a nós respeitar e valorizar essas diferenças. Um simples baloiço, algumas rampas de acesso, alguns cuidados na calçada, podem ser suficientes para valorizar e enriquecer pessoas que tantos nos têm a dar e a ensinar.
Gastos em quem merece, não são gastos, são investimentos. Tomem nota, o futuro de amanhã, a riqueza de uma autarquia, pode estar nos que hoje precisam somente de um mimo. Não precisam de uma dívida soberana, taxada por impostos descomunais, precisam somente de um mimo, que é, enfim, um direito. Uma gota no oceano pode ser uma avalanche na nossa praia. E não queremos as areias revoltadas pelo mar, queremos os contribuintes tratados de igual forma e felizes. Basta um mimo para isso.
Ricardo Alves Lopes (Ral)
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