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Rui Resende: “Gostava de ter jogado no Benfica”

Rui Resende foi a personalidade vareira homenageada pela organização da última Milha Urbana, o que o deixou visivelmente emocionado. “Não é que esteja vaidoso, mas sendo esta a primeira homenagem que me fazem significa muito para mim”, confessou ao OvarNews, pouco depois de ser pública e justamente agraciado, na presença de autarcas, dirigentes da Habitovar e muitos atletas.

A homenagem fê-lo voltar atrás no tempo e recordar muito do que passou e que “já nem me lembrava, já que eu nunca guardei recortes de jornais”, conforme disse antes de passar em revista alguns dos episódios mais marcantes da sua vida desportiva.

O início
Mas vamos ao início: Rui Resende nasceu em Angola. “A minha mãe era do Sobral, tal como o meu avô paterno”. “O meu pai veio a Portugal casar com a minha mãe, regressou a Angola e lá estivemos até aos meus 12 anos”.

RuiUm pouco antes de Rui completar o seu 12.º aniversário, o irmão mais velho teve meningite, ficando paralisado do lado esquerdo. “Os médicos disseram aos meus pais que ele teria mais possibilidades de se recuperar se fôssemos para Portugal e uma semana depois estávamos a embarcar para nos instalarmos em Ovar onde tínhamos família”. “Felizmente, o médico tinha razão”, sorriu.

Por cá, a família lá se organizou sempre com a ideia de voltar a África, e Rui foi estudar para o Colégio Júlio Dinis, no Curso Comercial, mas pouco tempo depois o pai morre subitamente na sequência de uma cirurgia e os planos de regressar foram postos de lado. “Ficámos por aqui e eu empreguei-me na Sociedade Mercantil, onde o meu tio era gerente, saltando depois para o F. Ramada”, mas já lá vamos, porque esta mudança já está relacionada com o futebol.

Rui Resende adorava o futebol e jeito não lhe faltava, tendo iniciado muito jovem a prática da modalidade, em 1951. “Comecei a jogar na Ovarense aos 15 anos, mas com autorização do Governo, por ser tão novo”.

“Éramos um luxo”
As memórias fluem e os olhos brilham. “Lembro-me perfeitamente de termos ido jogar com o Sporting de Espinho, lá, onde marquei dois golos e ganhamos por 3-0”. Outra recordação: “Lembro-me também do Feirense ter vindo fazer um jogo-treino connosco e dos jogadores aparecerem de camisola interior e calções rotos, ao passo que nós éramos um luxo”. “Hoje, olho para eles e penso que foram mais vezes à primeira divisão do que nós à segunda”. Observando, com mágoa: “Um clube que não tinha nada e nós ríamos deles…”

Quando completou 16 anos, “o treinador Pereira foi ver-me jogar e apesar de me achar franzino mandou-me aparecer nos treinos dos séniores e eu assim fiz, começando a jogar na equipa principal e nas reservas, claro”.

Foi então que o Sporting cedeu o jogador Manolo à Ovarense. “O Manolo só vinha no dia do jogo e o Pereira metia-me a treinar durante a semana no lugar dele, a extremo-direito, muito embora eu tivesse jogado a interior esquerdo nos juniores”.

Um certo domingo, o Manolo não apareceu e o treinador meteu-o no onze. “Foi assim que comecei a jogar na equipa principal da Ovarense com apenas 17 anos”.

Quando estava a dar nas vistas, chegou aos 18 anos, foi chamado à inspecção e obrigado a cumprir serviço militar, primeiro em Tavira, depois em Mafra e a seguir em Coimbra, “pois estava já destinado para jogar na Académica”. Rui queria continuar estudar e, se possível, seguir Medicina na Universidade de Coimbra. “Mas o meu curso era comercial e não dava para ciências”. Esteve dois anos na Académica de Coimbra após o que regressou a Ovar, ao F. Ramada, onde tinha emprego garantido.

A Associação Académica de Coimbra
Rui Resende optou então pela Académica, mas lembra-se de que “tinha recebido convites do FC Porto, onde fui prestar provas e gostaram muito de mim. Mandaram-me voltar, mas eu tinha visto o treinador a dar um abanão num jogador, tive medo e nunca mais fui”.

Choveram ainda convites do Boavista, do Sporting, do Belenenses, entre outros, “só não tive do Benfica que era para onde eu gostava de ter ido (risos). Ia até de borla se fosse preciso, porque na Ovarense joguei sempre de graça”, revela, em tom sério.

Aquelas duas épocas na Académica, em 1955/56 e 1956/57, foram a excepção, já que só envergou a camisola alvi-negra da Ovarense, terminando aqui a sua carreira nos finais da década de 1960. Não sem antes ser agraciado, em 1965, com a medalha de comportamento exemplar pela Federação Portuguesa de Futebol por ter efectuado 201 jogos, 67 dos quais a nível nacional, sem qualquer punição.

Contribuiu também para que a ADO alcançasse o campeonato distrital de 1954/55 e fez parte da integrante da gloriosa época que levou a Ovarense à 2.ª divisão nacional, em 1964/65, jogando sempre de forma desinteressada pelo clube vareiro.

“Fui sempre amador e mesmo quando foi obrigatório profissionalizar-me, chegou o fim do mês e não recebi nada”. “O José Castro, que era dirigente na altura, pediu-me desculpa, que não havia dinheiro e eu respondi-lhe que não havia nem era preciso haver porque eu não queria dinheiro nenhum”.
Nunca recebeu nada e mesmo os prémios das vitórias dava-os ao “António do Campo” para ele lhe comprar uns calções ou umas chuteiras de vez em quando. “Joguei sempre por amor à camisola”, repete.

Na Ovarense, jogou exercendo simultaneamente funções de director, prolongando este vínculo depois de pendurar as chuteiras.

“Era muitas vezes o melhor em campo”, recordando com saudade esses tempos em que o “Ruizinho”, diminutivo por que era conhecido, e o Toninho Canhoto, eram os melhores marcadores e apareciam no jornal. “Mas eu nunca guardei nada”.

Desde que a Ovarense começou a cair que Rui não ia ao velhinho Marques da Silva. Mas no sábado em que foi homenageado ganhou coragem e, emocionado, viu como “está tudo muito modificado”. “Parece que, graças a Deus, vai subir de divisão, mas sem apoios é tudo mais dificil”, rematou. (Foto principal: José Lopes)

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