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A singular coincidência da aguarela de João Semana (DA)

Fez ontem 178 anos que nasceu Júlio Dinis, pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, coincidindo o mesmo dia com os 150 anos da publicação da obra “As Pupilas do senhor Reitor”.

“Consideramos que Júlio Dinis é um mestre da literatura portuguesa e que tem uma ligação muito grande a Ovar”, defendeu ontem, Domingos Silva, vice-presidente da Câmara Municipal de Ovar. “Sabemos que viveu cá e cá escreveu ‘As Pupilas do Senhor Reitor’, retratando, nesse grande livro, aquele que era, à época, o modo de vida da nossa comunidade”, lembrou o autarca, que participou ontem, na abertura do quinto encontro dinisiano, que decorreu no imóvel onde o escritor viveu em Ovar, hoje transformado em casa-museu.

Da exposição de aguarelas de Alfredo Roque Gameiro, subordinada ao tema “As Pupillas do Senhor Reitor – Chronica da Aldeia”, que foi inaugurada ontem, no mesmo espaço, Domingos Silva destaca a sua “beleza extraordinária, ao mesmo tempo, que demonstra uma enorme cumplicidade com a obra de Júlio Dinis”.

É preciso dizer-se que o aguarelista nem sequer foi contemporâneo de Júlio Dinis, mas de qualquer modo, frisou o autarca ovarense, “a maneira como Júlio Dinis retratava as figuras das suas personagens, permitiu a Roque Gameiro transpô-las para a tela, em aguarela, com um pormenor e uma beleza excepcionais”.

Aliás, aquela que é talvez ainda hoje a figura mais conhecida da obra de Júlio Dinis, “é a do nosso João Semana e a imagem que dele todos temos parte de uma das aguarelas que é da autoria de Roque Gameiro”.

O mais interessante de verificar é que Júlio Dinis inspirou-se no Dr. João José Silveira para a sua figura do médico de província João Semana e Roque Gameiro, “desconhecendo-lhe a fotografia, pintou-o pela descrição de Júlio Dinis e retratou de forma muito fiel a figura que os vareiros conhecem”.

João Semana é um nome literário que tem inspirado o imaginário nacional, tendo sido encarnado muito recentemente por Nicolau Breyner, em mais uma série da RTP com o seu nome. O personagem de “As Pupilas do Senhor Reitor” assenta, no essencial, na pessoa do Dr. João José da Silveira, médico vareiro, amigo dos pobres, que nasceu na casa das Luzes, em Ovar, em 21 de Fevereiro de 1812, e que veio a falecer em 29 de Novembro de 1896 na sua casa do Largo de S. Pedro (hoje Largo dos Combatentes), onde tinha o seu consultório.

Júlio Dinis, ao descrever, naquela obra, a figura de João Semana, não precisou de criar, de inventar. Pode dizer-se que se limitou a retratar aquele modelo de médico bondoso. É muito interessante de verificar que a aguarela de Roque Gameiro, a partir da escrita de Júlio Dinis, é em tudo idêntica à figura do médico vareiro e das imagens que dele se conhecem e que Roque Gameiro desconhecia.

Um desafio

Os personagens da popular obra “As Pupilas do Senhor Reitor”, escrita em Ovar, por Júlio Dinis, tiveram grande divulgação, primeiro na obra literária, mas também noutras formas de arte. António França, responsável pelo Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense admitiu “o grande desafio que foi organizar esta exposição”.

A ideia original era trazer os personagens conforme foram retratados “no livro, no teatro e no cinema”, mas depressa se viu obrigado a refrear os seus ímpetos. “Primeiro, porque a casa museu é pequena para tudo” e, depois de visitar o Museu da Aguarela Roque Gameiro, em Minde, limitou a exposição às aguarelas deste autor relativas à edição de luxo da obra.

Se as quiser ver terá que se deslocar ao Museu Júlio Dinis, em Ovar, até 6 de Janeiro do ano que vem, para ver a referida exposição, concebida no âmbito das comemorações dos 150 anos do lançamento da 1.ª edição da obra “As Pupilas do Senhor Reitor”. O certame centra-se numa das produções mais emblemáticas de Alfredo Roque Gameiro, as aguarelas para ilustração da obra de luxo “As Pupillas do Senhor Reitor – Chronicas da Aldeia”.

Maria Alzira Roque Gameiro, directora do Museu da Aguarela Roque Gameiro, sublinhou o facto da obra “As Pupilas do Senhor Reitor” retratar também muito “o homem simples que Roque Gameiro era”. “Ele era uma pessoa com paixão pelo autêntico”, disse a responsável no encontro de ontem, e talvez por isso tenha conseguido tão bem “transmitir através da pintura a história transmitida pela escrita”. (Ler artigo completo in Diário de Aveiro)

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