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“A tomada de consciência do Eu” em “Vice-versa”

“Vice-versa”, espectáculo destinado a crianças entre os 03 e os 05 anos, em cena no domingo, para famílias, e esta segunda-feira, pelas 10 horas, para o público escolar, no CAO, é encenado por Victor Hugo Pontes, o homem do momento na dança contemporânea nacional.

Autor de “Uníssono – Composição para Cinco Bailarinos”, que registou casas cheias em Lisboa e Porto, em conversa com o OvarNews, explicou que este seu último trabalho gira em torno da “ideia de uníssono, pondo em causa essa identidade individual”. A Victor Hugo Pontes interessa mostrar, por um lado, que “nenhum objecto artístico é distinguível das pessoas que o compõem e, por outro, que nenhuma ocorrência artística é essencialmente replicável, sendo antes essencialmente única”.

O autor avisa que se trata de um “trabalho extremamente abstracto”, indo buscar o título a um termo musical. Aliás, a banda sonora tem a assinatura de Hélder Gonçalves, o compositor de serviço nos Clã.
Victor Hugo Pontes concebeu um espectáculo “extremamente físico, muito duro e difícil para os cinco bailarinos que o compõem”. No palco, “eles vão em busca da tal perfeição que os funda num só”. E é aí que reside a falha, “porque eles são todos diferentes”, defende.
A composição coreográfica que aqui se apresenta pode representar um ritual, conceito operativo nesta peça: nas sociedades, os movimentos fundamentais, simbólicos ou funcionais, são ritualizados, definindo à partida a norma e o desvio à norma, o padrão e a inovação, a tendência e a contracultura.

“Vice-Versa” vem na sequência de “Uníssono”. “A tomada de consciência do Eu que existe na construção de uma identidade que depois se dilui no conjunto” está na base do espectáculo”, explica Victor Hugo Pontes.

“Quanto tempo falta para ser grande? Se ficar com um dedo preso debaixo do pé durante 5 minutos isso é muito tempo? O que acontece se os ponteiros do relógio pararem? Uma história sem pés nem cabeça, ou com dois braços, vários dedos, joelhos, pernas e um nariz, num processo que vai acompanhando o desenvolvimento do conceito de tempo e o crescimento durante a infância”.

O ponto de partida é a concepção muito especial que as crianças têm do tempo e que será explorada a partir do modo como elas tomam consciência do próprio corpo.  Até este processo estar concluído, aquilo que importa é outra coisa: as crianças querem ter tempo para imaginar, para acreditar que é possível ter-se quatro pernas e correr muito mais depressa, que se pode ser gigante, ter quatro braços e vinte dedos, que do outro lado do espelho está outra pessoa igual a ela, que a imita, que as sombras são por vezes mais rápidas e por vezes mais lentas do que nós.

 

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