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Moisés Lamarão, um resistente e um “gentleman”

Nome ligado à militância do Partido Comunista em Ovar, Moisés Lamarão passou pelas prisões do Aljube, Peniche e Caxias, antes se ser deportado, em 1936, para Angra do Heroísmo. Activista do Movimento de Unidade Democrática, manteve intervenção política consecutiva entre 1929 e 1979, ano em que faleceu.
Filho de Maria José de Oliveira e de Manuel Ferreira Lamarão, Moisés Lamarão Ferreira Lamarão nasceu em 23/12/1911, em Ovar.
Com ligações ao Partido Comunista desde 1929, foi preso pela primeira vez em 1936, sendo entregue pela Polícia de Investigação Criminal de Lisboa à Secção Política e Social da PVDE em 1 de Abril. Identificado, então, como marítimo, tinha na sua posse selos de cotização da Comissão Intersindical (CIS) e “uma Agenda com desenhos de carácter comunista”, vindo a ser também acusado de vender jornais clandestinos de propaganda comunista (Processo 1830/SPS – Processo 698/36).
Nos seis meses seguintes, passou pela 1.ª esquadra (01/04/1936, 17/06/1936), Aljube (04704/1936, 02/05/1936), outra esquadra (01/05/1936), Peniche (28/707/1936) e Caxias (14/10/1936), antes de ser deportado para Angra do Heroísmo em 17/10/1936, onde foi julgado pelo TME em 28/05/1937 e condenado na pena de dezoito meses de prisão correccional (Processo 75/936 do TME).
Por ter sido indultado em 23/12/1938, regressou dos Açores e apresentou-se na PVDE em 06/01/1939, saindo em liberdade.
Já funcionário da Câmara Municipal de Ovar, foi o responsável, em 1940, pela organização do 1.º Comité Local do Partido Comunista.
Em 07/12/1943, quando estava hospitalizado, foi preso em Ovar pela Delegação do Porto da PVDE (Processo 1040/43). Julgado pelo TME em 24/01/1945 e condenado em 36 meses de prisão correccional, foi entregue na Cadeia da Comarca de Ovar em 29/03/1945 para cumprimento da restante pena.
Activista do Movimento de Unidade Democrática, organizou, em 1946, o 2.º Comité Local de Ovar, vindo a ser preso em Abril de 1947. Manteve sempre actividade política e, depois de Abril de 1974, continuou associado à militância do Partido Comunista em Ovar.
Moisés Lamarão faleceu em 14 de Junho de 1979, com 67 anos de idade. Testemunhos por nós recolhidos contam que Moisés Lamarão era um fumador inveterado e dono de uma educação fina e exemplar. «Um verdadeiro gentleman, como não há nestes tempos e ainda por cima depois do que passou na vida, mantinha aquela beleza no trato com o outro», conta Olívia Pereira, do também extinto restaurante Bonjour, onde Moisés jantava todos os dias.

 

“Conheci o Moisés nos cafés de Ovar, era eu, ainda, um rapaz de 18/19 anos…talvez menos até!”, recorda Rui Catalão. “Um grande homem, comunista, preso político, marginalizado e penalizado…um Homem duma integridade ideológica notável”. “Um homem bom, e um bom homem”, recorda Rui Catalão, independente eleito na UFO.

Moisés Lamarão no Café Paraíso, no centro de Ovar (Foto de Rui Catalão)

*com João Esteves - blogue Silêncios e Memórias

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