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“Os Hallas”, Júlio Dinis e Licínio de Carvalho

Com as artes pequenas ou chinchorros muito pequenos, os pescadores não se atreviam a afastar-se muito da costa, mas havia então outro perigo de que eles se temiam ainda mais do que as ondas: eram o piratas argelinos.

Em Julho de 1738, ao perseguirem uma caravela portuguesa, alguns deles encalharam com o seu barco e foram presos na praia de Esmoriz. “Em Abril e Maio de 1754, fizeram grandes devastações por esta costa, principalmente em Ovar” (Miguel de Oliveira, Ovar na Idade Média, 1967).

Um folheto de cordel, intitulado ‘Relaçam do Roubo’, e piratarias que nas costas do Norte deste Reyno, principalmente no Var districto da cidade do Porto, fizeram os corsários de Argel. Em Abril, e Mayo do presente ano de 1754. Noticia certa participada por varias pessoas da mesma terra, e outras de Ilho.

Escrita por Joam de Santiago Froel; informa que os argelinos apanharam 14 lanchas de pescadores, das quais nenhuma trazia menos de 17 homens.

«Nos meados do século passado, o literato ovarense Licínio Fausto
Cardoso de Carvalho compôs o drama marítimo, ‘Os Hallas’, ainda inédito, cuja figura central é um dos membros da companha do Halla, raptado pelos argelinos na praia do Furadouro, por uma noite de S. João». (Miguel de Oliveira, Idem).

Este drama, parte do qual foi publicado no ‘Jornal de Pardilhó’ em 1930 e cujo manuscrito foi legado ao Museu de Ovar em 1970, compõe-se de 4 actos, intitulados ‘A costa do Furadouro’, ‘A Nau do Corsário’, A Ermida de Entráguas’ e ‘A Noite de S. João’.

Numa noite de S. João, os piratas argelinos raptaram um membro da família Halla, nome duma companha de pesca da praia do Furadouro – a companha dos Alas ou Arte Velha, que trabalhou, pelo menos, entre 1785 e 1820, na costa do Furadouro.

Este cativo tornou-se muçulmano, o que não causou espanto aos piratas dado o seu nome ser semelhante ao de Allah, nome aquele que ia gravado nas suas roupas. Fugindo mais tarde e regressando a Ovar pretendeu casar-se catolicamente e, para o conseguir, recorreu ao bispo D. Diogo Lobo, que morava junto à capela de N.ª Sr.ª de Entráguas, em Válega.

O autor, Licínio de Carvaljo, engenheiro e escritor, nasceu em Ovar, a 13-01-1827, e faleceu no Porto, a 12-10-1855. Era filho de António Bernardino de Carvalho e de D. Virgínia Adelaide Nunes Cardoso, filha do Juiz de Fora de Ovar, Vicente Nunes Cardoso, e irmão de D. Branca Edwiges Cardoso de Carvalho Pinto de Sousa.

Descendente de liberais convictos, que não se pouparam a lutas e sacrifícios pela causa da Liberdade, também Licínio de Carvalho foi Soldado, servindo como Oficial no corpo de Fuzileiros da Liberdade, sob as ordens da Junta do Porto, durante as renhidas lutas civis de 1846-1847.

Engenheiro das Obras Públicas, formou-se no Porto, onde viveu a maior parte do tempo e onde acabou por morrer.

Foi uma figura profundamente ligada às letras, deixando-nos algumas peças dramáticas, de sabor histórico, tais como os “Dous Proscriptos ou Jugo de Castela”, que teve várias representações em diversas épocas, bem como várias edições (e até contrafacções brasileiras…), o “Rajá de Bounsoló” e ainda “Os Hallas”, drama em 4 actos, de que falamos acima, este de sabor verdadeiramente vareiro, pois a sua acção desenrola-se quer na Praia e Costa do Furadouro, quer junto à Ermida da Senhora de Entráguas, quer mesmo numa rua e largo da própria vila.

A obra Virgem de Malaca, foi continuada e concluída por D. Branca Edwiges Cardoso de Carvalho Ponto de Sousa, irmã de Licínio de Carvalho.

À data da primeira representação deste drama no Porto, em 10 de Março de 1855 (ou seja, a curtos sete meses da morte do autor!), no Teatro Camões, por estudantes da Escola Politécnica daquela cidade, um dos principais papeis – o de solista –, foi desempenhado por Joaquim Guilherme Gomes Coelho, que mais tarde viria a ser o consagrado romancista Júlio Dinis…

O jovem Actor, então com 15 anos, iniciava também então a sua vida literária, escrevendo peças de Teatro.

Nos 160 anos da chegada do romancista a Ovar, soube bem recordar um capítulo da vida de Júlio Dinis.

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