Cultura

Carrinha dos sorrisos leva alegria a idosos de Avanca

Mais ou menos idosos, homens e mulheres aguardam no largo da Junta de Freguesia de Avanca, uns de olhar distante, outros vivamente interessados em seguir todos os movimentos de mais um que se acomoda entre canadianas e cadeiras de rodas, outros ainda distraídos pelo movimento de carros e camiões que passam na estrada próxima.


Nem todos se conhecem porque são de lares e unidades diferentes, mas nota-se na maioria a excitação do momento, de conhecer caras novas, de conviver.

“É uma iniciativa muito simpática”, classifica Joaquim Silva, que está numa unidade de cuidados continuados e ali se dispõe a participar numa atividade “importante para a união” e a “demonstração de afeto mútuo”.

Com sorrisos e bicicletas adaptadas, a iniciativa resulta de uma parceria entre a Câmara de Estarreja e a Associação Mais Feliz e insere-se no Festival Sénior que visa combater a solidão e o isolamento – A GNR identificou mais de 100 idosos em Estarreja que vivem nessa situação.

Fernando Batista, da Associação Mais Feliz, salta para o meio da improvisada alameda e desafia as técnicas presentes a fazerem o mesmo. O objetivo é olhar olhos nos olhos e distribuir gargalhadas, desafio logo aceite por uma idosa bem-humorada: “vem cá ver as minhas cataratas…”.

Há quem ria logo, há quem sorria, há também quem mantenha o rosto fechado e aparente não estar ali, mas a expressão vai cedendo como por contágio e os olhos animam-se.

Fernando Batista explica que a metodologia assenta na risoterapia para o desbloqueio físico e mental: “o riso, mesmo o simulado, ajuda a ‘desligar’ o pensamento excessivo, diminuir a perceção da dor e promover o relaxamento”.

De volta àquele espaço, Fernando Batista desafia agora os presentes a articular gargalhadas com palmas e, como por magia, as palmas são cada vez mais, os braços esquecidos no colo fazem o esforço de aplaudir e o sorriso envergonhado dá lugar ao gozo da gargalhada.

Satisfeito com o resultado, Fernando distribui narizes vermelhos de palhaço, bem aceites perante o ambiente divertido que se criou, e avança para as bicicletas com a ajuda de um voluntário, colaborador da Associação.

A inovação no projeto reside na utilização de bicicletas especiais, que podem transportar tanto pessoas em cadeira de rodas, como utentes com mobilidade normal.

“A experiência de sentir o vento no rosto e as memórias da juventude geram sentimentos de felicidade rapidamente”, diz à agência Lusa.

Depressa a disposição das cadeiras é alterada para dar lugar a uma pista, onde Fernando Batista e o colaborador pedalam a transportar a assistência à vez, com a ajuda de bateria auxiliar para vencer a inclinação.

O entusiasmo é notório e as duas bicicletas não param para cima e para baixo, uma delas adaptada para acoplar cadeira de rodas: “já não andava de bicicleta há tanto tempo…”, ouve-se.

Joaquim Silva, que foi incentivando as vizinhas do banco de jardim a embarcarem na aventura, reserva-se para o fim, enquanto Cândida Malafaia, nos seus 83 anos, já não quer arriscar.

Confessa à Lusa que não alinha por medo, pois deu uma queda quando era nova e jurou “para nunca mais”, mas que adorou a atividade porque foi um momento “muito agradável” e que a fez “rir muito”.

Joaquim Silva é mais corajoso: tem uma prótese numa perna, esteve a ver como era com os outros, e lá se decidiu, sentando-se na bicicleta com o apoio das técnicas.

Patrícia Bastos e Vânia Cabral, dos lares Egas Moniz e do Centro Paroquial de Santa Marinha também se divertiram, participando nas brincadeiras e incansáveis na ajuda a acomodar os utentes nas bicicletas.

Destacam a importância do estímulo do riso, o convívio e a socialização entre os utentes de diferentes instituições que a iniciativa proporcionou.

“O simples ato de sair de casa já é um benefício, mas uma atividade diferente e divertida torna a experiência ainda mais valiosa”, comentam.Porto Canal no Linkedin

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