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Agitação marítima põe a descoberto armadilha de pesca dos romanos

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Uma armadilha de pesca atribuída ao século II a.C. foi exposta pelo mar na Praia Pau da Manobra, em Silvalde.

A estrutura terá sido construída em madeira e vime, destinando-se a permitir a apanha de peixe através de um sistema de onde esse, uma vez lá entrando, não conseguisse sair. Depois de abandonado, o mecanismo foi sendo escondido pela sucessiva deposição de areias ao longo dos séculos, até que a agitação marítima da semana passada, ao retirar à praia de Silvalde mais de dois metros de altura de areal, deixou parte da peça novamente exposta.

Alguns banhistas terão suspeitado da tonalidade turva das águas na zona onde apareceu a antiga construção de pesca, mas o mesmo responsável autárquico assegura: “Já fizemos testes à qualidade da água e não há perigo. O tom negro é só matéria orgânica resultante da libertação das partículas de madeira, que escureceram com o passar dos séculos e agora se vão soltando com o rebentar das ondas”, informou fonte da edilidade.

A armadilha agora descoberta em Silvalde irá permanecer no seu local de origem, tal como encontrada, e, segundo a autarquia, deverá acabar por ser de novo oculta pelas areias. “Não é estrutura que se possa retirar de lá para exposição”, afirma o vereador Joaquim Sá.

As armadilhas de pesca identificadas em Silvalde em 1989 foram objecto de um estudo científico pelos arqueólogos Francisco Alves e Mário Almeida, e pelo geólogo João Alveirinho Dias, contando ainda com o apoio dos bolseiros Óscar Ferreira e Rui Taborda.

Segundo essa investigação, publicada na revista “O Arqueólogo Português” e editada pelo Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, o engenho “parecia uma embarcação enterrada”, media quatro por seis metros e apresentava várias fiadas paralelas de estacaria entrelaçada de vime e cravada em sedimento silto-argiloso, que sondagens subsequentes revelaram prolongar-se para além dos 2,5 metros de profundidade. A estrutura revelara também uma camada de turfa da qual afloravam raízes de árvores.

As datações por radiocarbono revelaram então que os engenhos datavam dos séculos II a I a.C., enquanto o estrato silto-argiloso remontava aos séculos IV a VIII a.C. e a trufa era muito mais tardia, de X a XI d.C..

“Estas datações caracterizavam um quadro evolutivo marcado pelo assoreamento progressivo de uma zona de ambiente protegido, do tipo lagunar, onde teria sido implantada a referida estrutura”, diz o estudo científico. “Essa área teria posteriormente sido colonizada por espécies herbáceas, mais tarde por espécies arbóreas e, já em plena Idade Média, coberta por um cordão dunar litoral”, explica o documento.

A zona ter-se-á depois transformado num “meio de tipo pantanal e sofrido um rápido ensecamento”, como demonstrado pela presença de árvores do século X a XI. Esta datação permitiu, por sua vez, atribuir à mesma época a invasão das areias, o que durante séculos foi comum em certas áreas do litoral português e só se inverteu “em tempos mais recentes”, quando “o campo dunar que cobriu a zona acabaria por ficar sujeito a uma intensa erosão costeira, em virtude da qual se originaram arribadas talhadas nas dunas – cujo recuo se foi acelerando ao longo do século XX”.

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