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Mais uma “ponta do véu” do documentário de Júlio Dinis

Integrado na inauguração dos 160 ANOS DA CHEGADA DE JÚLIO DINIS A OVAR, o realizador Rui Pedro Lamy vai desvendar novo teaser do trabalho que efectuou no âmbito de uma residência artística.

Júlio Dinis é o pseudónimo literário de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, que também escreveu com o heterónimo Diana de Aveleda. Nasceu no Porto a 14 de novembro de 1839, na freguesia de São Nicolau, filho de José Joaquim Gomes Coelho, natural de Ovar, médico do Hospital da Ordem de São Francisco do Porto, e de Ana Constança Potter Pereira Lopes, de ascendência britânica. Frequentou as primeiras letras em Miragaia e, com dezassete anos, matriculou-se na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde, em 1861, defendeu tese.

Em abril de 1863, viu-se obrigado a abandonar o concurso para o cargo de Demonstrador da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, por ter sido acometido de uma hemoptise. O seu estado de saúde não lhe permitia prosseguir os seus projetos e almejar uma carreira académica na área da medicina.

A conselho dos médicos e de seu pai, decidiu tentar um período de convalescença em Ovar, terra de muitas qualidades, incluindo “… a de excelente estação climatérica”, vindo apanhar aqui “o ar da brisa marítima” e descansar, ficando hospedado na modesta casa do Largo dos Campos, n.º 14 (atualmente, n.º 81), da sua tia paterna, a viúva D. Rosa Zagalo Gomes Coelho, que então vivia com a filha mais nova, Maria Zagalo Gomes Coelho. Sabemos que chegou a Ovar a 7 de maio de 1863, vindo do Porto, tal como descreve na primeira carta dirigida a sua sobrinha Ana Constança Gomes Coelho, a Anitas, então com cerca de 13 anos: “Cheguei a salvamento a esta terra, tendo engolido muito pó, petisco de que, nem por isso, fiquei gostando. Ceei bem e espero dormir melhor”.

Independentemente da problemática sustentada por muitos académicos, biógrafos e historiadores quanto ao local onde o jovem médico, Joaquim Guilherme, se terá inspirado e dado origem à série “Crónica da Aldeia”, não podemos desvincular esta relação umbilical de Ovar, nomeadamente da estadia na Casa dos Campos, durante o verão de 1863. É durante as suas estadias em Ovar, sob a atenção da tia Rosa, que o escritor escreve a parte fundamental de As Pupilas do Senhor Reitor e de A Morgadinha dos Canaviais, dois romances da vida rural, assim como a novela O Canto da Sereia, cuja ação se desenrola num ambiente marítimo, inequivocamente localizado entre a praia do Furadouro, a poucos quilómetros de Ovar, e Espinho, a norte.

Podemos, assim, nesta exposição evocativa, afirmar que a Ovar não poderá ser negado o contributo para a génese da “Crónica da Aldeia”, bem como asseverar que as condições de estadia criadas na Casa dos Campos, a dedicação da tia Rosa, o contexto em que decorreu o período de convalescença, os momentos de convívio e de partilha com os ovarenses, proporcionaram o momento-chave indispensável para a afirmação de Joaquim Guilherme Gomes Coelho como escritor e romancista, sob o pseudónimo Júlio Dinis, que viria a integrar a galeria dos autores clássicos da literatura nacional.

 

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