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Cantadeira Maria Albertina nasceu em Ovar há 113 anos

Não se trata da Maria Albertina da roscas, nem do conjunto Maria Albertina, ao contrário do que muitos pensam. Esta Maria Albertina Soares Paiva nasceu em Ovar, no dia 05 de Janeiro de 1909, foi fadista e actriz, e faleceu em Lisboa, a 27 de Março de 1985.

Sentiu desde muito nova o apelo para uma carreira artística e, ainda jovem, começou por cantar o fado de Coimbra na sua terra natal. Mas só depois de ir para Lisboa, Maria Albertina iniciou a sua carreira artística após ser descoberta pelo maestro Macedo de Brito.

Estreou-se como cantadeira em Lisboa, em 16 de julho de 1931, no Teatro Maria Vitória, na opereta História do Fado, ao lado de Berta Cardoso e Maria das Neves.

O sucesso foi tal que, no ano seguinte, ganhou o prémio “Guitarra de Ouro”, num concurso organizado pelos jornais Diário de Notícias e O Século, no Capitólio. Em Agosto de 1936, venceu o concurso “Qual a Mais Famosa Artista do Teatro Português?” e ainda conseguiu o título de “Melhor Cantadeira” num concurso da Rádio Luso.

Ainda nos anos 30, inaugurou o Retiro da Severa, no Luna Parque, e, em 1934, tornou-se actriz na revista Vista Alegre, na qual encenou com Carlos Ramos o célebre quadro de Malhoa, “O Fado”, a que se seguiram, em 1935, os sucessos de “Viva a Folia!”, “Bola de Neve”, “O Rapa”, “Sardinha Assada” e, no ano seguinte, “À vara larga”, “Feira de Agosto”, a opereta “Coração de Alfama”, “Há festa na Mouraria”, “Maria Rita” e “Água vai”, em 1937.

Em 1934, na sua primeira digressão pelo Brasil, integrada na Companhia Satanela-Francis, cantou, quer em revistas quer em festas de beneficência no Rio de Janeiro e Santos.

Em 1935, regressou a Portugal, passando a cantar em vários espaços e eventos como Casas de Fado, retiros e associações de beneficência, e ainda integrou o elenco das revistas “Há Festa na Mouraria” e “Maria Rita” (1936); “Olaré quem Brinca” e “Água Vai” (1937); e “O Dia da Espiga” (1943).

Ganhou os Prémios dos Concursos de Fado Guitarra de Ouro (promovido pelo Diário de Notícias e O Século, 1932 e 1933), bem como os dos Concursos promovidos pela Rádio Luso e pelo Clube Radiofónico de Portugal, em 1936.

Participou, no cinema, em “A Canção de Lisboa”, de 1933, de Cottinelli Telmo, cantando o “Fado dos Beijos Quentes”, em “Bocage” (1936), para cantar “Bailarico Saloio” e ainda integrou o elenco de “Vendaval Maravilhoso (1949)”, ambos filmes de Leitão de Barros.

https://youtu.be/mShQJKO0GYc

Em 1937, a convite do Secretariado de Propaganda Nacional, cantou na Exposição Internacional de Paris.

Em 1941, Maria Albertina entrou na Grande Marcha de Lisboa e a partir da década 60, e durante mais de 20 anos, cantou no Restaurante Típico “O Faia”, na Rua da Barroca nºs 54-56, no Bairro Alto, em Lisboa.

Por razões pessoais, a sua carreira foi interrompida em 1943, tendo sido retomada em 1956. A partir desta altura, dedicou-se maioritariamente ao Fado, tendo actuado no Rádio Clube Português, na Emissora Nacional e em diversas Casas de Fado, como Retiro da Severa, Solar da Alegria, Café Luso, Café Chave d’Ouro, Adega Machado, Márcia Condessa, Solar da Hermínia e O Faia, entre outros.

Entre 1960 e 1962 trabalhou em Paris, no restaurante “O Fado”, propriedade de Clara D’Ovar. O seu repertório inclui tangos, boleros, canções tradicionais portuguesas e marchas (gravou a Grande Marcha de Lisboa e a Marcha de Alfama em 1958), além do fado.

Cantou também nos teatros Ginásio, no Grémio Alentejano e no Maxim’s, no Solar da Alegria e no Salão de Chá do Café Chave d’Ouro, em esperas de touros em Vila Franca de Xira, e também em casas particulares como a da Duquesa de Palmela, do banqueiro Ricardo Espírito Santo e nos palácios do Conde da Torre e de Fontalva, para além de digressões pelo Brasil, Argentina, Espanha, E.U.A, Canadá e Paris.

Os seus maiores sucessos musicais foram “Voz do Povo”, “Fado Meu Filho”, “Bailarico Saloio” e, sobretudo, o vira “Tricanas de Ovar”, de Aníbal de Nazaré e de Lopes Costa, criado para o teatro de revista e que, em 1966, o locutor Jorge Alves exibiu no programa da RTP, “Melodias de Sempre”. Em 1998, foi editado em CD uma compilação de 16 faixas das suas músicas.

O espólio de Maria Albertina está depositado no Museu Nacional do Teatro.

O seu nome faz parte da Toponímia de Lisboa (Freguesia do Lumiar, Edital de 25-06-1985), Odivelas (Freguesia da Ramada), Oeiras (Freguesia de Caxias) e Ovar.

É mãe de Cândido Mota, locutor da rádio e televisão que, por diversas vezes, se refere em público às suas origens vareiras. A mãe percebeu-lhe o jeito para o ofício. Em casa, ele fazia-lhe festas nos pés, e ela cócegas nas costas e na cabeça. Um gesto que repete com as filhas. Pela mão de Herman José, o locutor foi chamado para ser a voz-off do concurso televisivo Roda da Sorte, que começou a ser emitido na RTP em 1991. A partir daí, Cândido Mota acompanhou sempre Herman José nos seus programas televisivos, mesmo depois da transição para o canal privado SIC. A sua voz é inconfundível e marcou toda uma geração de espectadores e ouvintes de televisão e rádio.

Fontes consultadas:
“Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX” (Direcção de Salwa Castelo-Branco, 1º Volume, A-C, Temas e Debates, Círculo de Leitores, 1ª Edição, Janeiro de 2010, Pág. 21 e 22); Portal do Fado Ruas com História

 

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