Opinião

Chuva de estrelas das Perseidas – Por António Piedade

No seu movimento de translação ao redor do Sol, o nosso planeta atravessa ao longo de todo o ano várias regiões do espaço polvilhadas com poeiras deixadas pela passagem de cometas.

Em Agosto, a Terra atravessa o rasto de poeiras deixadas pela passagem do cometa 109P/Swift-Tuttle. Este encontro provoca a entrada na atmosfera terrestre dessas poeiras (do tamanho de grãos de areia) que, devido à fricção, se incendeiam originando um rasto luminoso visível à noite. Comummente designa-se este evento astronómico por “chuva de estrelas”.

A chuva de estrelas deste mês surge mais intensamente no céu a partir da constelação de Perseu. Daí o seu nome de chuva de estrelas das Perseidas, apesar de também ser conhecida por Lágrimas de São Lourenço na tradição popular.

São Lourenço (ou Lourenço de Huesca), mártir e um dos primeiros sete Diáconos (guardiões do tesouro) da Igreja Católica, pereceu imolado sobre uma grelha ardente, sob a ordem do Imperador Romano, no dia 10 de Agosto de 258 (d.C.), na cidade eterna. Não sei precisar se esta data é segundo o calendário Juliano ou Gregoriano, mas inclino-me mais para este último. Não por ser este o calendário que seguimos aqui no ocidente, mas por o dia 10 de Agosto, em que se celebra a festa litúrgica católica em honra ao mártir cristão, se situar entre os dias em que é possível observar uma maior intensidade e número de estrelas cadentes a cruzar o zénite nas noites cálidas do Verão. É que a tradição popular baptizou, como já se disse, a chuva de estrelas, que deslumbra por esses dias a abóbada estrelada, por lágrimas de São Lourenço. A sobreposição entre a data da sua morte e o acontecimento astronómico faz-me situar o início da atribuição popular para depois de 1582, ano em que foi promulgado pelo Papa Gregório XIII o calendário com o seu nome.

Ou seja, só no verão de 1583 é que o nosso planeta Terra, na sua inexorável translacção à volta do Sol, sublimou um enxame de meteoros denominado por Nuvem Perseida por entre os dias 8 e 14 do mês de Agosto do calendário Gregoriano. Só por curiosidade, diga-se que o dia 10 de Agosto, do nosso calendário, seria o dia 28 de Julho no calendário Juliano.

A chuva de estrelas das Perseidas é uma das maiores do ano, e a noite em que atinge o seu máximo é a de 12 para 13 de Agosto, chegando a alcançar cerca de 100 rastos luminosos por hora em céus escuros.
Este ano de 2021 o pico de atividade está previsto para o dia 12 de agosto entre as 20h e as 23h (Hora Legal) com uma taxa horária prevista de 110 meteoros por hora, se as condições de observação estiverem perfeitas. O radiante das Perseidas (ou seja, o ponto de onde parecem provir na abóbada celeste), aparecerá acima do horizonte a Nordeste.

Acrescente-se que estas poeiras, reminiscentes da passagem do cometa 109P/Swift-Tuttle, entram na atmosfera com uma velocidade entre 59 km/s e 72 km/s e a maior parte desintegra-se a uma altitude de 100 km.
Diga-se que o cometa 109P/Swift-Tuttle foi descoberto a 19 de Julho de 1862 por Lewis Swift e Horace Parnell Tuttle, e tem um diâmetro de 9,7 km. É um cometa periódico, regressando às proximidades do Sol em cada 135 anos. A sua última aproximação teve lugar em 1992, ano em que a chuva de estrelas das Perseidas foi espectacular, com mais de 300 rastos luminosos por hora, devido à maior densidade de poeiras deixadas então recentemente pelo cometa.

Assim, planeie uma observação astronómica para a noite da próxima quinta-feira e desfrute da provavelmente maior chuva de estrelas do ano. Para isso, escolha um local que seja o mais escuro possível, longe da cidade. Não precisa de usar telescópios nem binóculos, pois bastam os nossos olhos para observar a chuva de estrelas. Observe relaxadamente, sem pressas e o mais cómodo, se possível deitado no chão. Boas observações.

António Piedade

António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência, entre os quais se destacam “Íris Científica” (Mar da Palavra, 2005 – Plano Nacional de Leitura),”Caminhos de Ciência” com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011) e “Diálogos com Ciência” (Ed. Trinta por um Linha, 2019 – Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular “Ciência às Seis”, no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra. Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.

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