Opinião

… e Portugal continua a arder! – Lobo Mau

Este lobo tem andado desaparecido. Pudera! Com Portugal todo o arder, onde é que a minha alcateia se esconde? Ando escaldado, tostado, ressequido, chamuscado, queimado. Fujo das labaredas. Fiz uma escapadela para escrever isto, à pressa, que me andava a consumir o pensamento e vou regressar à floresta (ou ao que resta dela).

Em julho foi o que se viu: uma parte do país estava a banhos (Primeiro-Ministro incluído) e a outra a arder. Sobraram desculpas e justificações: a força da natureza e as alterações climáticas na origem dos incêndios que tornam estes fenómenos “inevitáveis”; as escolhas públicas e sociais, como o abandono das áreas rurais, a desertificação das aldeias, as casas e terrenos abandonados, o desprezo pela agricultura por parte de uma geração jovem, “cool” e cosmopolita, a ausência de uma estratégia de requalificação do mundo rural, da identificação de “novas funções do mundo rural”, de turismo, recreio, agricultura e floresta; a incapacidade de implementar uma estratégia de prevenção eficaz e, por fim, um último aspecto discutido por quem olha de fora surge, neste contexto referido, paradoxal: a persistência do nosso PM em manter toda a gente em funções quando o luto daqueles que perderam família e haveres na voragem das chamas exigia respeito (leia-se demissões e menos abraços).

Como se o SIRESP nunca tivesse falhado por culpa de alguém. Ora, se este sistema foi criado para colmatar falhas das comunicações convencionais, se também falhar, qual é o interesse?

Solteira é que não pode ficar a responsabilidade de um incêndio como o de Pedrógão Grande (que tantas vidas ceifou) e vai deixar solteira a responsabilidade dos outros fogos e mortos na Madeira e por aí fora. Investigue-se e apure-se antes que o povo transforme a tristeza em revolta.

Moita Flores diz e com razão que não se pode usar o argumento de que «agora vivemos o luto e depois trataremos das responsabilidades, como se uma coisa tivesse a ver com a outra. Não foi o Ministério Público, não foi a PJ, não foram os responsáveis pela segurança local e nacional que morreram nos incêndios ou debaixo da árvore. Estão vivos e exige-se que procurem responsáveis. Usar o luto como desculpa, é a mesma coisa que pedir a uma brigada de homicídios que não investigue a morte de alguém porque a família chora o falecido».

Partilho ainda da ideia do antigo director da PJ quando diz que num País culto, civilizado, corajoso, esta gente iria prestar contas pelo desleixo, pela desorganização, pelas políticas erradas que, nas últimas décadas, deixaram multidões mergulhadas na maior desgraça.

Isto é tudo uma brincadeira e andamos todos a brincar aos países.
Quem tem medo do Lobo Mau?
(Leitor devidamente identificado)

  • actualizado às 11 horas do dia 18 de agosto de 2017

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