Opinião

É Verão! – Por Sérgio Lamarão Pereira

Os acontecimentos que servem de assunto a este texto passam-se numa cidade. Poderia ser uma qualquer cidade, com os seus problemas e com as suas virtudes. Todavia é a minha cidade.

Em si mesma esta cidade é bela. O seu centro histórico é soalheiro e calmo, transmitindo alguma serenidade e paz de espírito. Porém, não raras vezes, torna-se sombria onde o nevoeiro fresco e húmido vindo do mar cria uma espécie de cortina cinzenta intransponível. Muitas vezes, a cidade parece querer esconder-se no manto de nevoeiro, mesmo no Verão. No geral, o seu aspecto é simpático e sedutor. As casas mais antigas com as suas fachadas cobertas de azulejos atribuem uma beleza notável e inigualável, contrastando com os edifícios altos e recentes. Algumas casas apresentam um aspecto pobre. Outras… ricas e abastadas. São imensas as que estão à venda criando um cenário triste, reflexo das dificuldades quotidianas.

Os tempos são de crise.

Os passeios cobertos por pedras de basalto enaltecem o caminhar dos transeuntes. Por aqui tudo parece calmo. Algum lixo vagueia livremente pelo chão empurrado pelo vento. A este nível é uma cidade suja. A falta de civismo é notória. As ruas apresentam o contraste entre os paralelos e o alcatrão. As poucas infraestruturas “básicas” nesta pobre cidade urgem sobressair aos olhos dos cidadãos.

Os passos do concelho são um registo arquitectónico e artístico único e invulgar. Os doces regionais são deveras conhecidos e apreciados. Os jardins são belos, coloridos e cuidados.

Já os rios correm sujos e poluídos, onde patos e ratos além de carregarem as suas pestes se refrescam tomando banhos de prazer e sujidade. As aves: pombos, pardais, andorinhas e melros criam uma certa inveja, pois no seu bater de asas povoam o céu, planando numa liberdade permanente.

No que ao relevo diz respeito, esta cidade caracteriza-se basicamente pela planície; razão pela qual vários povos se fixaram desde tempos imemoriais. As suas condições naturais são de tal modo agradáveis, que parte da população ainda se faz deslocar de bicicleta ou motorizada nas suas ruas planas e esburacadas.

É, de facto, uma cidade antiga. Terra de pescadores, agricultores, artesãos, comerciantes e alguns industriais. No Verão é uma cidade praticamente deserta, em virtude de quase todos se deslocarem para o mar ou para a ria. É uma cidade comercial, mas o comércio já conheceu melhores dias.

Nos cafés, velhos e novos jogam às cartas, dominó e bilhar. Os emigrantes fazem a sua visita anual.

Nos arredores, os campos de cultivo vão dando lugar a belas e caras habitações. A floresta vai desaparecendo. A que resta e felizmente ainda é considerável, serve de cemitério para os mais variados tipos de lixos.

É uma cidade em que o poder político governa numa pesada inércia. Vão-se perdendo estruturas básicas e fundamentais para a população. Existe um hospital sem serviço de urgências e um tribunal quase sem processos. Uma estação de caminho de ferro digna de um filme do velho oeste americano.

Para quando mais inovação e progresso em prol dos jovens e menos jovens?

Sérgio Lamarão Pereira

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