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“Memórias que guardo do meu Mestre na SMOL”

A Maio Maio Edições, projeto editorial sediado em Ovar, lança a quarta publicação da autoria do vareiro José Lopes: “Memórias que guardo do meu Mestre na SMOL* – Manuel Fernando Oliveira Fonseca (1931-2017). *Sociedade Metalúrgica Ovarense, LDª.
Ao longo deste testemunho, o Zé – como carinhosamente me habituei a tratá-lo desde pequeno – utiliza várias vezes a expressão “exercício de cidadania ativa”. Nesta forma de descrever o seu trabalho, cabem muitas histórias. Uma boa parte delas tem-nos sido passada por escrito, mesmo que o Zé, arrisco-me a dizer, nunca tenha olhado para a sua produção como um fim em si mesmo. Integrados em diversas lutas, os seus textos estão intimamente ligados a uma militância atenta a escalas muito diferentes.
Do rio que naquele dia passava mais cinzento, fruto dos crimes ambientais que tem rigorosamente documentado, à denúncia da gradual destruição da escola pública, instituição central no seu percurso.
O Zé ensaiou os seus primeiros escritos no “ambiente cinzento e poeirento da SMOL”. Nas paredes de um corredor descendente, com a oficina ao fundo, afixava inúmeros poemas que descreviam aquele dia-a-dia duro, ainda que os fizesse desaparecer logo a seguir: “punha-me a pensar… poemas?
Mas isto é uma coisa pequeno burguesa, e então destruía aquilo, eu que tenho o hábito de guardar tudo”. Assim, o regresso à SMOL oferece-nos também indícios de uma poética, de uma descoberta da função e do lugar da escrita na sua vida.
Celebrar os 50 anos do 25 de abril em Ovar é, passe o chavão, escovar a história a contrapelo.
Alexander Kluge e Oskar Negt abrem o “O que há de político na política” afirmando que, em lugares distantes de um dado centro, a biografia substitui os factos políticos. Talvez possamos acrescentar uma nuance, questionando o que é afinal uma biografia e o que é afinal um facto político. Ou o que é afinal uma relação solidária entre aprendiz e mestre, e o que é afinal a base de uma militância partilhada.
Enquanto tudo nos parece mais árido e hostil, tudo deixa “verdadeiramente na prática” de o ser. À nossa volta, muita desta obstinação se deve ao Zé.
 
Francisco Silva in Nota de Edição

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