Opinião

Um Vírus não uma Guerra – Rosendo Costa

As férias do Ano Novo chinês, que deveriam ter terminado ontem, estenderam-se até dia 10 de Fevereiro. Infindáveis circulares dos governos locais pela China, aconselham as pessoas a não sair de casa, a não viajar, a não frequentar espaços fechados em contacto com outras pessoas ou espaços abertos onde haja outras tantas e a reiniciar a actividade no dia 10 de Fevereiro – as escolas e universidades estão fechadas sem data de reabertura.

O processo de quarentena chinês é inédito e impressionante: inédito porquanto nunca se fechou uma cidade de 11 milhões de habitantes e impressionante a velocidade e eficiência com que os chineses têm levado a cabo todo o processo.

No entanto, não é o drama que a comunicação social faz querer parecer para aumentar a venda de edições impressas ou os “clickbaits” nas notícias. Sim têm morrido muitas pessoas – a esmagadoria maioria de idade e com outros problemas de saúde latentes -, sim têm milhares de pessoas infectadas (independentemente de haver números ocultos ou não), mas falamos de um país que constitui 1/6 da população mundial o que quer dizer que não chega a 1% da população total do país – em termos nus e crus há mais probabilidade de morrer num desastre de viação em Portugal do que do coronavírus na China.

Tirando a província de Wuhan em total quarentena, não faltam recursos na China, incluindo comida, água, saneamento, electricidade, gás, internet, transportes (se bem que com grandes limitações) e internet.

No demais, muita gente – familiares, amigos, conhecidos e “aqueles” conhecidos (os conhecidos que só aparecem “oportunamente” quando lhes cheira a desgraça) – têm vindo enviar-me links de notícias (como se eu andasse a dormir e não soubesse o que se passa no país onde vivo), a perguntar-me se estou bem, que deveria regressar – não estou na Síria, não há aqui uma guerra, é um vírus e não não vou apanhar um avião de volta para Portugal para arriscar ser contagiado no aeroporto ou voo, colocar em risco amigos e familiares, nem para ser massacrado com perguntas e comentários pouco inocentes das pessoas – “então, ouvi dizer que aquilo na China está mau”, “vieste de vez?” – ou para ver as pessoas no café a mudarem-se para outra ponta do estabelecimento ou mudarem de passeio quando me virem.

O sítio mais seguro e a decisão mais sensata é mesmo esta: Pequim, a capital chinesa, e ficar em casa todos os dias fechado em quarentena, num condomínio a ser desinfectado diariamente nas áreas comuns, onde ninguém que não seja morador entra e onde TODA a gente é submetida a testes de temperatura feitos por uns “gajos vestidos de astronautas”.

Por fim, sim estão a fechar rotas internacionais e voos directos, mas isso não me assusta… Vivo neste país há seis anos, não estou cá de férias há duas semanas… Por outro lado, se passasse a vida a fugir de obstáculos ou perigos viveria em constante pânico e nunca alcançaria nada na vida…

Rosendo Costa
31.01.2020
Pequim, China

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