Opinião

Manter o cérebro saudável no envelhecimento – Patrícia Canhão

Dia 22 de Julho celebra-se o Dia Mundial do Cérebro, instituído pela World Federation of Neurology (WFN), em 2014. Desde então a WFN seleciona anualmente um tema que considera ser oportuno divulgar e aumentar a sua visibilidade. O tema deste ano, “Brain Health and the Ageing Population”, incide sobre o envelhecimento e o cérebro saudável.

Existem atualmente mais de 800 milhões de pessoas com idade superior a 60 anos (cerca de 12% da população mundial). Com o aumento da longevidade, e de acordo com as projeções das Nações Unidas, estima-se que em 2050 mais de 2 mil milhões de pessoas terá idade superior a 60 anos (20% da população mundial), e o número de pessoas com 80 e mais anos de idade poderá atingir quase 400 milhões. Com a idade, aumenta a prevalência de doenças neurológicas, incluindo o acidente vascular cerebral (AVC), a demência e a doença de Parkinson. Estima-se que cerca de 10 a 20% das pessoas entre os 60 e 80 anos sofrem de uma ou mais doenças neurológicas. E que mais de 30% das pessoas com mais de 80 anos sofrem pelo menos de uma doença neurológica. Estas doenças vão comprometer a função cerebral, determinar maior incapacidade ou dependência e reduzir a qualidade de vida dos próprios e seus familiares.

O Dia Mundial do Cérebro pretende este ano ter um efeito de sensibilização global para as doenças neurológicas que acompanham o envelhecimento. Pretende-se alertar para a importância de reconhecer e tratar as doenças neurológicas, que são tão frequentes na população idosa, e que por vezes são subdiagnosticadas, insuficientemente tratadas e que tantas vezes são alvo de financiamentos insuficientes, seja na sua prevenção, tratamento e investigação. Também neste Dia Mundial do Cérebro se vai difundir a ideia de que é possível prevenir algumas das doenças neurológicas que afetam os idosos, e que em todas as idades se devem promover estilos de vida que mantenham o “Cérebro Saudável”. Ter um “Cérebro Saudável” é um dos requisitos essenciais para o bem-estar físico, económico e social dos indivíduos.

Entre as várias doenças neurológicas que aumentam de prevalência com o envelhecimento salienta-se o AVC, que é a doença neurológica mais comum na população mundial neste grupo etário. Cerca de 75% dos casos ocorrem em pessoas com mais de 65 anos. Representa uma das principais causas de mortalidade e é a primeira causa de incapacidade no mundo.

Em Portugal, é pertinente falar do AVC neste Dia Mundial do Cérebro por várias razões. Em primeiro lugar, porque o AVC é a primeira causa de morte e incapacidade em Portugal. Em segundo lugar, porque existe possibilidade de tratar os doentes com AVC, desde que cheguem rapidamente aos locais adequados para o tratamento. Para isso, os doentes ou acompanhantes, deverão reconhecer os sinais de AVC e solicitar ajuda imediata – chamada para o 112 – para serem orientados de forma emergente para o centro de tratamento apropriado. Esta fase do tratamento agudo do AVC tem que ser cada vez mais otimizada. E um dos principais modos de se ter sucesso passa por um maior reconhecimento dos sinais mais frequentes do AVC – assimetria da face, alteração da fala, diminuição de força num braço (3F’s).

A outra razão de se falar em AVC neste dia é precisamente porque esta doença catastrófica pode ser prevenível. E todas as medidas de prevenção devem ser iniciadas nas pessoas, mesmo ainda quando são jovens. São bem conhecidos os seus fatores de risco: a hipertensão arterial, diabetes, dislipidémia, problemas cardíacos como a fibrilhação auricular, tabagismo, obesidade e sedentarismo. Muitos destes fatores de risco são modificáveis e tratáveis. Controlar estes fatores de risco previne o AVC. Sabemos que a doença vascular cerebral pode condicionar também o desenvolvimento de alguns tipos de demência, e como tal, estaremos também a prevenir declínios cognitivos futuros.

Por isso, em muitos locais no mundo vão ser reforçadas as medidas simples que se devem adotar para manter um “Cérebro Saudável” no indivíduo em envelhecimento, e que previnam algumas das doenças neurológicas mais frequentes no idoso.
Ficam aqui sugestões que estão a ser difundidas neste dia para manter um cérebro saudável: 1) manter-se mental e socialmente ativo; 2) manter atividade física regular; 3) adotar uma dieta saudável; 4) controlar o peso, a pressão arterial, o colesterol e o açúcar no sangue; 5) não fumar; 6) evitar lesões cerebrais traumáticas (exemplo, usar cintos de segurança, capacetes).
Pode prevenir-se ou atrasar a lesão cerebral. E, se começarmos a atuar cedo na vida, podemos alcançar melhor qualidade de vida uns anos mais tarde.

Patrícia Canhão, Prof.ª Doutora
Neurologista do Hospital de Santa Maria (CHLN) e Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral

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