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“Tivemos que fugir porque está impossível viver na Venezuela”

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Gustavo Fernandez é apenas mais um venezuelano que fugiu do seu país, mergulhado numa grave crise política, económica e social desde 2015, para encontrar em Estarreja um porto seguro. Casado com uma luso-venezuelana, o casal já chegou há cerca de cinco meses. “Tivemos que fugir porque lá está impossível viver”, conta Gustavo. Ao contrário do que se possa pensar, “trabalho é coisa que não falta na Venezuela, não há é nada para comprar, não há comida, medicamentos ou vacinas para crianças, o dinheiro não chega para nada e a par com isto, a insegurança não pára de crescer”. “É impossível viver assim”, sustenta.

A esposa, Ana, conta que só agora estão a tratar das papeladas, “em Portugal, porque lá é impossível”, não poupando nas críticas ao consulado português na Venezuela que, segundo Gustavo, “está a fazer um péssimo trabalho”.

Os portugueses sabem que não é fácil deixar para trás toda a família para trás. “Os venezuelanos sempre foram um povo de acolhimento e não de sair para emigrar”, constata Gustavo, com uma certa emoção na voz: “Então, é muito difícil”. Ficou lá tudo, carro, negócio, família, “é começar do zero”.

Motiva-o a possibilidade que agora tem de ajudar “os maus pais ao enviar algum dinheiro, pois lá tudo custa milhões de bolivares”. “Um quilo de arroz custa 9 milhões. É preciso levar um saco de dinheiro para pagar. É horrível”. O abastecimento de bens essenciais começou a ser afectado e a inflação atingiu os 180% em 2015, esperando-se que possa fixar-se em 1.000.000% até final deste ano.

A descida de 10 dólares nos preços do barril de petróleo teve um impacto muito grande na balança comercial venezuelana, com uma acentuada perda de receitas de exportação. O que mais custa a Gustavo Fernandez é que a Venezuela “é um país rico, cheio de recursos. É triste destruir-se por meia dúzia de pessoas”.

Na bagagem trouxe um diploma de Chef de cozinha e depressa encontrou emprego na região. “Adaptei-me muito bem e já sabia como funcionava com os portugueses, pois casei-me com uma (risos)”. Agora, só está um pouco apreensivo com o inverno, porque adora a “tranquilidade e segurança”. “Temos que andar para a frente”.

SEMA apoia emigrantes

Não é atribuição da SEMA prestar apoio aos emigrantes, mas o facto de ter um funcionário ex-emigrante, que viajou para a Venezuela aos 5 anos e regressou aos 60, ajudou muito. Hoje, já se dirigem pessoas não só de Estarreja, mas de todo o distrito. O fenómeno atingiu uma tal dimensão que “decidimos atender estes casos apenas à segunda-feira, pois não fazemos outra coisa, todos os dias”, diz Teixeira Valente, presaidente da SEMA, associação empresarial que se instalou em Ovar esta semana.

Desde janeiro deste ano, a SEMA já colocou cerca de 200 venezuelanos e lusodescenbdentes a trabalhar no ecoparque empresarial. “Sabemos que tem muita falta de mão de obra”, diz Teixeira Valente que assegura que “não é só nas empresas, também no comércio, na área hoteleira há falta de cozinheiros, padeiros, pasteleiros”.

Os casos sucedem-se. “Criou-se aqui uma rede e à medida que se fala na comunicação social, mais as pessoas nos procuram”, diz o presidente da SEMA, que recebe emails da Venezuela todos os dias. “Alguns muito comoventes, como o de uma família que nos pediu, encarecidamente ajuda para fugir, sem comida ou medicamentos”. “Não têm que comer”. “Comoveu-me mas tive de responder que não podemos ir lá buscá-los, como é evidente”.

A SEMA é uma associação empresarial que teve de reinventar-se para fazer um trabalho na componente social e solidária. “Já tínhamos uma bolsa de emprego e ajudávamos pessoas e empresas. Agora, alargamos esta vertente aos venezuelanos que chegam”.

Há em Estarreja uma conjuntura favorável. “Tem havido facilidade de colocação e isso é bom”. Teixeira Valente lembra que se perspectiva uma nova empresa a instalar em janeiro próximo que vai precisar de mais 200 pessoas. O Quimiparque, por exemplo,  precisa aí de 500 pessoas, neste momento”.

“O Gustavo veio cá com o avô da esposa”, recorda o dirigente. “Disse que era Chef de cozinha e eu sabia que o Restaurante Mercado estava a instalar-se e ia precisar de um. Mandei-o lá e ficou logo a trabalhar”.

A SEMA lida com situações semelhantes todos os dias. “Este trabalho que estamos a fazemos devia ser da assistência social dos Municípios ou do Instituto de Emprego”, critica. “Mas temos tido muito sucesso e atrevo-me a dizer que já empregamos mais gente que o centro de emprego”, conclui Teixeira Valente.

Novos residentes

O registo de novos cidadãos venezuelanos com residência autorizada em Portugal duplicou em apenas um ano, de acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), com maior expressão na Madeira e no distrito de Aveiro. No ano passado, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) concedeu 924 títulos de residência a cidadãos venezuelanos, 350 homens e 574 mulheres, o que fixou o total de residentes daquela nacionalidade em Portugal até 31 de dezembro de 2017 em 3104 (1216 do sexo masculino e 1888 do feminino), um aumento de 31,7% comparativamente a 2016.

Os números consolidados do SEF no que se refere a novos cidadãos da Venezuela autorizados a residir em Portugal em 2017 mantêm a tendência de crescimento do número de venezuelanos que deixam o país natal para se fixarem em Portugal, com o estatuto de cidadão estrangeiro.

O SEF não indica projeções para 2018, porém admite que “é possível avançar que se verifica uma tendência para o aumento das concessões de autorização de residência/cartões de residência a cidadãos de nacionalidade venezuelana, com maior expressividade na Madeira e no distrito de Aveiro”.

Em 2016, 453 cidadãos venezuelanos pediram autorização de residência em território português, repartidos por 274 mulheres e 179 homens. A variação percentual relativamente a 2015 fixou-se em 87%.

O número total de cidadãos da Venezuela residentes em Portugal em 2016 fixou-se em 2.356, mais de um milhar de mulheres (1.386) e quase mil do sexo masculino (970), um aumento de 17% face a 2015.

Os números consolidados de 2015 indicam que foram concedidas 241 autorizações de residência de cidadãos venezuelanos em Portugal, a 85 homens e 156 mulheres.

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