Opinião

As coisas boas e as coisas más – Ricardo Alves Lopes

Não se pode desmerecer uma cidade que se agita. O negócio das romarias e eventos é populismo, sempre será. O povo gosta de festa, pois claro.

Não sei como é viver a política, estar arredado da capacidade de enaltecer o bom e apontar o mau  isento, sempre na lógica de um bem comum, que só pode acontecer se formos nós no leme. Não sei, de facto, o que isso é, e tenho pouca ambição de sabê-lo, mas sei que as romarias, sejam elas culturais ou de simples arraial, não podem ser tidas como um parente pobre de um trabalho municipal. Não estou com isto a dizer que é trabalho único, sejamos francos, mas estou a dizer que também não é supérfluo.

Quem esteve esta semana pela Feira do Livro ou foi às festas em Esmoriz, não pode achar que tudo isto se trata de gincanas políticas para caçar votos. Não vou ser casto ao ponto de acreditar que não existam intentos políticos por detrás de determinados apoios, estou antes a dizer que quando esses intentos chegam ao povo, às pessoas que, alheias aos bastidores dos jogos de interesse, se tornam mais felizes, o sentido de tudo toma outro rumo. Estar numa feira do livro a escutar pessoas eruditas, não só pelos livros que escrevem, mas principalmente pela forma como olham o mundo, não pode ser transmitido para um âmbito político. É essa passagem que mata a  minha crença na política.

Todos deveriam ter escutado, entre outros, o Afonso Cruz. Sou um admirador dele, da eloquência com que fala de cerveja ou teorias da existência, mas quando penso que, por detrás do que foi o prazer dele estar ali a escutá-lo, estão outras pessoas a discutir a relevância de uma iniciativa como esta, fico triste. Eu sei o quanto necessitamos de mais apoios na saúde e no emprego, do quanto poderíamos necessitar de mais esta ou aquela estrutura, mas o caminho para o fim deste país é a clara ascensão do domínio das governações do betão. As auto-estradas em exagero, os edifícios bonitos de hoje, para serem fechados amanhã, mais cedo ou mais tarde, no meu entender, corrompem a possibilidade de felicidade das pessoas. O capitalismo, que tantos criticam, está associado à construção, tantas vezes desmesurada. Não sou um tonto, sei que um país necessita de infra-estruturas, de obras que o movam, mas uma pessoa sem identidade é uma pessoa que nem essas possibilidades saberá aproveitar.

Não sei como estão as contas da autarquia, mas sei que muito devemos ao professor Manuel Alves de Oliveira pelas enormes oportunidades que nos criou, com espaços como o centro de artes, a escola de artes e ofícios, o espaço empreendedor, a aldeia do carnaval, entre outras coisas. Mas estou em crer que o caminho não deve prosseguir a ser esse. Ao nível de estruturas, dentro das limitações que a natureza cria, devemos estar muito atentos à costa, mas para lá disso, devemos apostar no enriquecimento cultura de uma população, para o melhor aproveitamento das infra-estruturas que foram criadas. O colectivismo e a cultura podem parecer caminhos de voto fácil, e que sejam, mas se com isso trouxeram pessoas mais despertas para a sua missão, ou simplesmente para uma visão mais optimista da vida, com outros objectivos, talvez ajude a um movimento económico. As coisas não podem ser dissociadas, e julgo que é isso que a política faz. Pessoas são uma coisa, números são outra. Não, as pessoas criam números e movem números. Se os separarmos, os números são só números.

Fora isto, gostava de mencionar que não sou de direita nem de esquerda. Sou ateu. Na política, como muitos na religião, só acredito no que vejo. E vi coisas que gostei na governação de centro-esquerda e estou a ver coisas que gosto na de centro-direita. Quanto às coisas más, também as há, mas como vejo tanta gente a fazer carreira de enumerá-las, pareceu-me um desperdício de texto fazê-lo.

Ricardo Alves Lopes (Ral)
http://tempestadideias.wordpress.com
[email protected]  

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