Opinião

País das Máscaras – Rosendo Costa

Quase um mês depois, o país está parado… Entramos de férias em 17 de Janeiro por causa do ano muitos ainda não sabem quando se regressa ao trabalho. Eu tenho data agendada para dia 24, mas quem estuda e trabalha nas escolas, academias e universidades ainda não há data de reabertura.

O país está parado, com todas as consequências que isso traz: em termos económicos tem representado perdas na ordem dos biliões afectando todas as actividades – turismo, hotelaria, restauração e comércio “levaram logo uma pancada”, porque as pessoas estão assustadas e não saem à rua, não viajam, não comem fora, não fazem compras nas ruas, shoppings e avenidas – sendo a altura do Ano Novo Chinês a época e que os chineses gastam bastante dinheiro em prendas para familiares -, não vão ao cinema, não se juntam e ficam fechadas em casa, além do prejuízo de shoppings e lojas de estarem abertos, com funcionários a trabalhar a meio gás e sem clientes; as empresas de todos os sectores estão paradas e se o Governo chinês incentiva à prática do trabalho remoto isso não é produtivo por vários motivos: porque há sectores como o secundário e primário em que simplesmente não se pode trabalhar remotamente a partir de casa e, no caso das empresas, não há reuniões, não há controlos hierárquicos de chefias no local, as pessoas estão fechadas em casa e tanto podem fazer como não fazem, fazem como e quando querem e isso não é produtivo; e o desastre não é só para a China, também é para a Europa porque a China é um grande produtor de bens exportados para a Europa e é um grande consumidor do mercado global – e quando maior a demora em retomar a produção maior o risco; em termos psicológicos e sociais é um cenário angustiante – as pessoas ficam fechadas em casa, aborrecidas, angustiadas, deprimidas, gera-se revolta interior de quem sofre perdas financeiras, muitas são obrigadas, por recomendação das autoridades chinesas e implementação das empresas, a tirar férias e quem não pode a tirar baixas médicas – não há nada na lei laboral chinesas sobre “layoff” em caso de calamidade, epidemia, desastre e recomendou-se as empresas a pagar o mínimo de 80% do salário mínimo local o que, p.ex. em Pequim, corresponde a sensivelmente € 285,00, mas empresas há que estão a pagar a totalidade aos funcionários – há também associações de arrendatários a fazer pressão para baixa das rendas durante o mês de Fevereiro.

Sair à rua não ajuda: o cenário é apocalíptico com lojas fechadas, papéis rosados colados nas portas sobre aviso de fecho e sem aviso de reabertura; avenidas e construções faraónicas dignas duma megacidade em que não se vê vivalma; pedestres de cara vazia escondida por entre uma máscara em que não se consegue ver emoções, que se evitam tocar ou cruzar com estranhos na rua; pessoas que abrem portas com pés e usam mangas para tocar nos botões de elevador; situações bizarrras em que ninguém que estar de frente a falar para outra pessoa e evitam qualquer contacto com outro ser humano; numa cidade em que queixo do barulho existe um silêncio cortante e arrasador.

Ontem, fui a um shopping que conheço bem, onde adoro ir comer a certos restaurantes, comprar roupa ou ir ao cinema e achei impressionante: em situação normal, levo encontrões, desvio-me à pressa das pessoas que parecem vir contra mim na minha direcção, o barulho ensurtecedor de vozes que não se conseguem distinguir, filas nas máquinas dos bilhetes do cinema, ou filas à porta dos melhores restaurantes e não vi ninguém… Absolutamente ninguém, parecendo que a imensa multidão típica das pessoas se tinha evaporado…

Rosendo Costa em Pequim

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