Opinião

Maria Barroso e o seu último “Mudar de Vida”

Foi em 26 de abril de 2005 que a Escola Básica 2, 3 Monsenhor Miguel Oliveira de Válega preparou e recebeu a atriz Maria Barroso, numa data em que “Mudar de Vida” foi a razão de um dia absolutamente diferente.

Na escola, os alunos reviram cenas do filme e recriaram-nas, prepararam as instalações para de uma sala de aulas fazer uma inesperada sala de cinema. Os espaços pareciam ter sido totalmente recriados para que “Mudar de Vida” ali tivesse uma vivência especial. Os corredores deram lugar a uma exposição com imagens do filme que o fotógrafo Rui Almeida, de Avanca e Ovar, tinha feito quando acompanhou a rodagem do filme na praia do Furadouro.

“Mudar de Vida” foi rodado em 1966 pelo cineasta Paulo Rocha, cujo pai era de uma família de Ovar. No elenco do filme surgiam atores como Geraldo Del Rey, Isabel Ruth, João Guedes e, no papel de “Júlia”, uma das protagonistas do filme, estava uma das mais belas e talentosas atrizes desse tempo, Maria Barroso.

Um dia e trinta e um anos depois da Revolução de Abril, que haveria de traçar outros caminhos na vida da atriz, Maria Barroso chegou a Válega e passou o dia, quase inteiro, com os alunos, os professores e vários membros do Cine-Clube de Avanca que haviam programado o evento.

Visitando tudo, de tudo querendo saber, assistindo emocionada às recriações dos jovens de Válega, ilustrando cada fotografia da exposição com histórias dessas filmagens, a atriz Maria Barroso ainda assistiu ao filme do seu amigo Paulo Rocha, na altura já com saúde debilitada.

Este evento foi um dos vários que o Cine-Clube de Avanca organizou nesse ano, com o apoio das várias escolas da região, do ICA e da Direção Regional da Educação do Centro, numa ação intitulada “Cinema nas Escolas”. Os filmes eram aqui sempre um motivo de debate, onde cineastas e jovens aproximavam perguntas e respostas, com histórias pelo meio.

A Dra. Maria Barroso deixara de ser atriz e a actividade política e social tinha passado a ocupar todo o seu tempo.
Depois do filme, o debate subsequente teve disso um reflexo único, deixando nos assistentes um testemunho único de uma vida plena, de luta por ideais que sempre a nortearam. As horas desse dia viveram-se vorazes por entre a sensibilidade, o saber, o testemunho crítico com que acompanhou cada uma das suas intervenções.

26 de abril em Válega permanece muito para além da triste notícia que nestes dias encerraram o livro da sua vida.

Entre Avanca e Válega, um forte obrigado por ter reservado momentos, quase páginas, a todos nós que consigo pudemos crescer melhor.

Obrigada!

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