Opinião

A “inevitabilidade” da inflação dos Lucros – Por Emanuel Ferreira da Silva

A inflação, fenómeno transitório e relativamente recente na história da humanidade (durante
muitos séculos a inflação foi virtualmente zero), tem ajudado a justificar, com alguma leviandade
e até uma suposta inevitabilidade, a perda do poder de compra dos portugueses, que têm visto
os seus salários incapazes de fazer face ao aumento brutal do custo de vida.

No entanto, se no início da guerra (ou “operação especial”) da Ucrânia, as matérias-primas e os
custos de transporte marítimo e terrestre efetivamente aumentaram exponencialmente por
motivos diversos, desde o segundo semestre de 2022 que o seu preço tem caído
consistentemente, nalguns casos já para níveis pré-guerra.

O racional, vertido e defendido por alguns órgãos de comunicação social e responsáveis políticos, de que tudo isto é inevitável – como se do nosso fado se tratasse – não é propriamente congruente com a escalada recorde dos lucros das empresas energéticas, retalhistas (alimentares e outras), bancos, etc.

Se estas indústrias, sem as quais não conseguimos viver neste mundo moderno, estivessem
simplesmente a transmitir para o consumidor o aumento de custos sentido na sua cadeia de
valor, a sua margem de lucro não subiria de forma obscena (quase ofensiva), sem qualquer
consideração pelas dificuldades já sentidas por uma parte significativa da sociedade.

Não estou, claramente, a defender que empresas de capital privado devam funcionar como uma
espécie de substituto ao sector social. A iniciativa e o capital privado têm um papel fundamental
no modelo de sociedade em que vivemos.

Não obstante, gostava que os nossos responsáveis políticos deixassem bastante claro que uma
parte significativa da diminuição do poder de compra dos portugueses vai diretamente – sem
passar pela casa da partida – para aumentar a remuneração dos acionistas dos grandes grupos
nacionais e internacionais.

Emanuel Ferreira da Silva
Ovar

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