Para Bonifácio, o confinamento ditado pela pandemia e consequente cordão sanitário por viver em Ovar, impulsionaram-no a explorar o desconhecido.
Da investigação em torno de novas técnicas de composição, encontrou o que procurava na música generativa.
Dentro desta temática, explorou algumas ferramentas usadas e desenvolvidas por compositores como Steve Reich ou Brian Eno nas décadas de 60 e 70. Nasceu assim o segundo EP, “Lockdown Tapes” lançado no inverno de 2021.
Com o final da pandemia, Bonifácio sentiu o ímpeto de transferir estes processos para o palco, misturando-os com ritmos dançáveis e construindo assim sonoridades contemporâneas.
Tó Trips também é um nome da “casa”. Desde que conheceu João Doce, em 2004, que Esmoriz é o seu refúgio.
Primeiro porque João Doce fez daquela cidade do concelho vareiro a sua casa; depois porque Tó Trips encontra ali regularmente um local perfeito para retemperar forças.
Um dia, na Cafetaria do Parque Ambiental do Buçaquinho, surgiu mesmo a ideia de fazerem algo juntos. O plano inicial era simples: o Tó na guitarra, o João Doce na percussão. “Sumba” nasce assim desta necessidade criativa de dois músicos talentosos que, acima de tudo, são amigos.
Mas é o seu projeto a solo que vem ao palco. Tó Trips toca “Popular Jaguar”, o seu terceiro álbum, aquele que é o seu trabalho mais autobiográfico e o primeiro a ser lançado após os Dead Combo.
Tó Trips fala-nos de “um disco pós-Dead Combo”. “A minha vida era os Dead Combo e de repente tudo isso acabou. Acabou a banda, depois meteu-se a pandemia e foi uma maneira de arrumar a casa e de um recomeço, ao fim ao cabo é isso”.
Um concerto inspirador que junta acordes dolentes e notas que cortam com tudo o que possa soar superficial.
O COVID, uma das páginas mais negras de Ovar foi, afinal, inspiradora. Pode dizer-se que Tó Trips e Bonifácio fazem as honras da “casa” quando, esta noite, as portas da Escola de Artes e Ofícios se abrirem para mais um “Ovar Expande” que se vai prolongar pelo fim-de-semana.
